Camerata Fukuda comemora seus 20 anos com CD

Repertório tem Vivaldi e Hindemith e a regência segura é de Celso Antunes

A Camerata Fukuda celebra 20 anos com um interessante CD do selo Paulus, com patrocínio do Etapa. O repertório é eclético: dois concertos de Vivaldi; o Outono das Quatro Estações no Japão, uma versão oriental inspirada na temática do hit de Vivaldi, assinado por Masaaki Hayakawa; a Sinfonia Simples do inglês Benjamin Britten; e os Quatro Temperamentos, de Paul Hindemith.

Brilham, naturalmente, como solistas ex-integrantes deste bem-sucedido projeto musical fundado pela violinista Elisa Fukuda e o regente Celso Antunes: o violinista David Graton, que participa do Concerto emSi Menor opus 3, nº 10 de Vivaldi, para quatro violinos, cordas e contínuo, foi um dos fundadores da camerata, em 1988. Foi lá que iniciou sua carreira de spalla (hoje é concertino da Osesp). Claudio Micheletti, ex-aluno de Elisa, é hoje spalla da Experimental e concertino da Osusp. Maria Fernanda Krug, hoje concertino da Sinfônica Municipal de São Paulo, também estudou com Elisa, assim como Winston Ramalho, Rodolfo Lota, Juan Rossi e Amanda Martins ? este grupo de violinistas se encarrega dos concertos para três e quatro violinos de Vivaldi, contínuo e cordas. Leituras corretas, entusiasmadas.

A regência sempre segura e imaginativa de Antunes foge da monotonia das execuções burocráticas. O ponto alto é a música do balé Os Quatro Temperamentos, de Paul Hindemith (1895- 1963). É até hoje incensado por sua produção dos anos 20 conectada com a vanguarda alemã de Weimar (leia-se Brecht/Eisler/Weill); e esculhambado por seu conservadorimo a partir dos anos 30 até sua morte. A história da música do século 20, contada até pouco tempo apenas sob o ponto de vista da vanguarda experimental, jogou na lata de lixo nomes como Shostakovich, Sibelius e Hindemith. Hoje, os dois primeiros estão amplamente recuperados. Por que isso não aconteceu com Hindemith?

Recém-chegado aos EUA em 1940, horrorizou-se porque George Balanchine lhe propôs coreografar sua Música de Câmara nº 2, uma peça de 1928 agressiva para piano e 12 instrumentos. Ele simplesmente não se reconhecia mais nela e tratou de compor a jato Quatro Temperamentos, obra tonal, pacificada, que remete ao universo medieval dos humores. Em cinco semanas a obra estreou tendo Lukas Foss como solista. Na gravação da Camerata Fukuda, atua o excelente pianista Fernando Tomimura. Peça exibe construção excepcional e trato magistral das cordas e seu entrechoque com o timbre pianístico.

Naquele 1940, Hindemith compôs também uma Sinfonia em mi bemol e o terceiro concerto para violino. São obras da mais alta qualidade de invenção ? embora respirem ares conservadores. O fato é que hoje soam muito bem. Quanto à Camerata Fukuda e a Celso Antunes, parabéns pela longevidade e pelo atrevimento inteligente de, numa gravação festiva, não se limitar ao óbvio devolver à circulação uma obra tão interessante como Quatro Temperamentos.

Fonte: Estadão - 13 de janeiro de 2010