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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Jazz + Erudito

por Joaquim Vivas

As primeiras notas do Jazz nasceram em Nova Orleans, no início da década de 20, no final da Primeira Guerra Mundial. A fórmula desta música é, uma combinação de diversos elementos tradicionais da cultura negro - norte-americana, somado a um pouco de tudo da música popular e erudita européia.

Da cultura negra os spituals, o blues e o ragtime; da cultura européia a marcha, a valsa, a mazurca, a polca e outras formas de expressão musical.

Em meio século de existência esta música foi discriminada pela sociedade, que tentou aboli-la de vez do planeta. O próprio nome "Jazz", favoreceu uma conotação pejorativa para a música que nascia. Evoluíndo gradativamente, para impor-se definitivamente como arte musical marcante deste século.

Leonard Bernstein afirma que a música erudita- música séria, executada por orquestras sinfônicas, tem a influência do Jazz. Tal influência, é especialmente aparente nas próprias composições de Leonard Bernstein, Strawinsky, e Gerswhin.

Strawinsky demonstrou sua preocupação com o Jazz, escrevendo uma série de composições, com o título referindo-se ao "ragtime", e apesar disso, não se fazia perceber a presença do Jazz nestas composições. Analisada seriamente, podemos sentir o tempo do Jazz, mas ele foi incapaz de expressá-lo, mesmo com toda sua vitalidade musical, Strawinsky não abrangeu a qualidade americana que é a essência do Jazz.

O Jazz pode ser a grande base da música a ser escrita por compositores americanos, quanto a melodias folclóricas, mas só pode fazer uma contribuição adequada à música erudita , quando a composição e a execução da música que esteja se desenvolvendo dele , forem executadas por músicos que estejam à vontade com o idioma musical jazzístico. A música deve ser composta e tocada, concebida e interpretada por jazzistas experientes.

Grande parte dos músicos de Jazz não tinham formação clássica, tinham dificuldade para ler as partituras e só sabiam soltar o que estava dentro de si, seu sentimento e suas limitações. Consequentemente, a música que tocavam e a maneira que tocavam, estava delimitada por suas próprias limitações. "Existem músicos que podem compor e igualmente tocar essa música?" Segundo Gene Krupa em suas entrevistas, NÃO!! A música americana, no século XIX, era tudo, menos americana. Nova em folha, pejorativamente, enfrentava o problema de ser uma sociedade pioneira, dedicada a proposições revolucionárias e ousadas, mas sem nenhuma tradição, exceto as européias. Qualquer um que pretendesse ser figura importante musicalmente, deveria ter formação européia. Diferentemente do século passado, com o término da Primeira Guerra mundial, a música passa a ter que ser original e americana e, neste momento, o Jazz chega para ficar; assim, nenhum americano verdadeiro, poderia deixar de sentir o Jazz até na música erudita.

A originalidade - elemento novo, ocupa o espaço da formação erudita européia. Levando-se em conta que a inspiração é a voz interior, que se expressa através de uma melodia ou letra, no momento que era "obrigatório" ser americano e original, a criação passa a ser consciente, racional, sendo abolida a espontaneidade, característica principal do Jazz.

Todo movimento deixa um resíduo positivo. Neste caso a originalidade e a americanidade; utilizados maravilhosamente por George Gershwin, que conseguiu ser original, americano e ainda resgatando a espontaneidade.

A música de Gershwin, tinha todos os elementos citados, mais a influência européia- é uma espécie de síntese de todos os movimentos musicais e de sua experiência pessoal.

Ao contrário de Gershwin, Strawinsky utilizou o quinteto de madeira e a potência musical européia, acrescentando a isso, o Jazz. Em verdade, não havia uma integração- o que havia era Strawinsky more Jazz. Apesar de todas as tentativas, percebe-se que o objetivo de integrar o Jazz e a música erudita, não foi alcançado.

Com a queda da Bolsa, aconteceram vários questionamentos, inclusive na música. Ocorreu então, uma reflexão sobre todos os momentos e movimentos musicais, surgindo uma reavaliação dos valores tradicionais. A música americana, passa a ser o somatório de toda a tradição européia mais a criação tipicamente americana, consolidando o surgimento de um estilo real, derivado do inconsciente americano. A escassez de dinheiro, fez com que desaparecesse a música comercial, que objetivava a venda, dando espaço para uma "criação viagem", que é o Jazz. Momento este, importantíssimo para essa expressão musical.

A música, divide-se em melodia, harmonia, ritmo, forma, contraponto e viagem. Em minha opinião ISTO É JAZZ! Por isso mesmo, o Jazz influenciou todas os compositores americanos, principalmente na improvisação, fruto da viagem que o caracteriza.

Em meu ponto de vista, o sincopado, é diretamente associado ao Jazz, e literalmente nada mais é do que encurtamento ou corte, mas na música significa colocar o acento no tempo fraco, ou em notas inesperadas, trazendo-as pouco mais cedo ou tardiamente do que o convencional. Na década de 20, os compositores propositadamente, colocavam o sincopado jazzístico. Hoje por existir uma real influência do Jazz, este sincopado aparece espontaneamente, por ser parte integrante do inconsciente musical americano.

Exemplificando, cito a sinfonia Jeremiah de Leonard Bernstein, que aparentemente não tem nenhuma ligação com o Jazz, mas que tem o sincopado, por que Bernstein, por ser um compositor americano, sofre a influência do Jazz.

Bernstein, é reconhecido mundialmente como maestro, compositor de música erudita e autor dentre outras, da trilha sonora de West Side Story. Ouvidos mais atentos, sempre perceberão o Jazz em qualquer composição musical tipicamente americana, seja ela erudita ou popular, pós queda da Bolsa.

Muito mais poderia dizer sobre as notas sincopadas no erudito, mas aqui são apenas noções para semear o desejo de ouvir mais e mais o Jazz.

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