O alarme toca, as luzes se apagam. "Picture yourself in a boat on a river, with tangerine trees, and marmalade skies...". Bem vindo à viagem de ‘Beatles num céu de diamantes’. Após curta temporada em Lyon, França, e vindo de um 2008 inesquecível, onde arrebatou milhares de espectadores em diversas cidades brasileiras, o musical de Charles Möeller e Claudio Botelho volta ao Rio de Janeiro, mais precisamente em um abafado e barulhento Espaço Rio Sul, Botafogo. Com cenário simplificado "Beatles..." reestreia com novas caras no elenco, como Pedro Sol, que já esteve presente em "O Despertar da Primavera", outro musical da dupla.
"Beatles num céu de diamantes" nos apresenta Lucy e seus companheiros (batizados com nomes de músicas do quarteto de Liverpool, como Rita, Julia e Michelle), em uma jornada de sete fases - o sonho, a fuga, a descoberta, os encontros, o amadurecimento, um sonho dentro do sonho, a volta, finale - que busca respostas para a vida, a solidão, e principalmente o sentimento mais pregado pelos Bealtes: o amor e suas diferentes faces, temática que aparece na maioria das letras dos Fab Four, como "If I Fell", "Girl", "In My Life", e "Yesterday".
Repaginar músicas dos Beatles não é tarefa das mais fáceis. Há quem ache que os garotos de Liverpool já são datados, velhacaria ou algo do tipo. Também há aqueles que acreditam que as composições de George, Paul, John e Ringo são perfeitas do jeito que são, e, portanto, alterá-las seria cometer um pequeno sacrilégio. Apesar disto, versões no cinema (como Across the Universe) e no circo (Love, do Cirque de Soleil) foram aclamadas por público e crítica. E com "Beatles..." não é diferente.
Simplicidade e arranjos originais garantem belas interpretações
Deixando de lado toda a produção espalhafatosa e visualmente atordoante de ‘Love’ e as versões sem sal de "Across the Universe", "Beatles num céu de diamantes" presta uma homenagem crua e simples às músicas e arranjos despretensiosos dos Fab Four, com nove atores/cantores e três músicos (Pedro Milman no piano, Lui Coimbra no violoncelo e Jonas Hammar, que, além de participar da peça, é responsável pela percussão) espalhados por um pequeno palco, com poucos adereços e iluminação minimalista. Tudo bem simples.
E a simplicidade é o grande trunfo de "Beatles...". Em uma peça que não possui falas, sem o foco no cenário e com os instrumentos fazendo bases discretas, os atores/cantores têm a liberdade de explorar suas capacidades vocais, rendendo arranjos inovadores, no ritmo de bossa nova, polka, tango e até chachachá, além de interpretações empolgantes, principalmente pelas mulheres, como Mayra Bravo em "While my Guitar Gently Weeps" (do White Album), Sabrina Korgut em "Something" (do Abbey Road) e Ivana Domenico, que nos presenteia com um incrível feeling "jazzístico" em "Here, There, and Everywhere" (do Revolver).
O final de "Beatles num céu de diamantes" resume bem o espírito da peça. Tal como o histórico clipe de 25 de junho de 1967, atores, músicos e plateia cantando juntos, entoando em uma única voz o maior hino do século XX ao amor, citado no título desta matéria. E talvez Paul McCartney, George Harrison, John Lennon e Ringo Starr estejam certos. Tudo o que nós precisamos é de amor.
Serviço:
O espetáculo continua em cartaz até o dia 2 de maio no Espaço Rio Sul na Rua Lauro Muller, 116, piso G3. As apresentações acontecem às quintas e sextas, às 21h, sábados às 21h30 e domingos às 20h. Os ingressos custam R$ 60, com meia-entrada.
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