"O Scala sempre viveu de mitos." Quem afirma é Giuseppe Barigazzi, em La Scala Racconta, volume dedicado a repassar os principais lances da história do teatro. No século 19, ele lembra, os mitos eram os compositores, em especial Verdi e, mais tarde, Puccini. No século 20, o foco mudou, com o advento da figura do intérprete. Começou com o maestro Arturo Toscanini; nos anos 50, foi a vez de Victor De Sabata e, claro, dos cantores: Maria Callas encabeça a lista, seguida por Renata Tebaldi; entre os homens, Mario del Monaco e Giuseppe Di Stefano. Mitos, claro, não surgem por acaso. Mas acaba sendo um atrativo da caixa agora lançada o fato de que ela, em geral, passa ao largo do mais óbvio. Não são nomes menos conhecidos - mas normalmente deixados em segundo plano. Era natural que o tamanho da fama de Callas e Tebaldi deixasse pouco espaço para ela, mas como pensar nesse período sem a voz de Antonieta Stella? E se Renata Scotto e Carlo Bergonzi se tornariam célebres em décadas seguintes, como ignorar o comecinho de suas trajetórias?
A segunda porção de gravações da caixa já avança em direção à década de 80. No pódio, agora o maestro Claudio Abbado. Sua chegada, nos anos 70, à direção do Scala marcou de certa forma a modernização da companhia, com maior atenção à música sinfônica e ao repertório do século 20 e também a novos autores e obras. Abbado deixou registros preciosos de Verdi (1813- 1901), dos quais foram escolhidos Macbeth, Simon Boccanegra, Aida e o Réquiem. O elenco já está mais próximo de nós: sopranos como Mirella Freni e Katia Ricciarelli, tenores como Plácido Domingo e José Carreras e barítonos como Piero Cappuccilli, além do baixo Nicolai Ghiaurov. É um prazer reencontrar algumas das melodias mais interessantes de Verdi - e constatar que nelas, e na maneira como o compositor as encadeava, está o que de mais interessante e familiar existe no repertório operístico.
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