Por Martin Petty
CABUL (Reuters) - O rock ao vivo voltou neste sábado ao
Afeganistão depois de três longas décadas ausente, e homens e mulheres
jovens aplaudiam e pulavam no ar ao som de batidas de punk rock.
Bandas da Austrália, Uzbequistão, Cazaquistão e
Afeganistão apresentaram um banquete musical de seis horas de blues,
indie, música eletrônica e death metal a centenas de fãs, muitos dos
quais nunca viram shows de música ao vivo antes.
Sound Central foi algo inédito em um país islâmico
profundamente conservador, onde a música era proibida sob o regime
austero do Talibã. Mesmo agora, lojas de música são atacadas em algumas
cidades e músicos perseguidos por seus trajes ou cabelos.
O festival teve um sotaque distintamente afegão, com o
álcool proibido e kebabs como os únicos alimentos disponíveis e um
respeito por valores religiosos fortes em meio ao rock and roll.
As bandas deixaram o palco e os microfones foram
desligados duas vezes no final da tarde para permitir que a chamada às
orações das mesquitas vizinhas não fosse interrompida.
"Onde eu moro não há nada assim. Eu ouvi falar disso,
então tive que vir", disse Ahmad Shah, que veio de Kandahar, uma cidade
no sul do país mergulhada na violência de insurgentes.
"Eu vim para escapar do câncer do Talibã e essa é uma mudança refrescante".
A violência atingiu seu auge no Afeganistão desde que as forças apoiadas pelos Estados Unidos derrubaram o Talibã em 2001.
Jovens afegãos se aproximaram da beira do palco,
pulando e jogando os braços para o ar ao som da banda local White Page, e
o punhado de guardas de segurança tiveram trabalho para contê-los.
A multidão se afastou rapidamente quando um homem
vestindo jeans e uma camiseta justa foi ao chão para improvisar uma
dança estilo "break".
O festival aconteceu em meio a forte segurança em um
canto dos pitorescos Jardins Babur, um parque geralmente tranquilo ao
redor do túmulo centenário de Babur, o primeiro imperador Munghal.
A data e o local foram mantidos em segredo até o último momento para evitar a chance de um ataque insurgente.
Apesar do sigilo, o evento atraiu mais de 450 pagantes e
centenas mais se aglomeravam nas ruas comerciais vizinhas. Alguns
homens idosos com turbantes e longas barbas pareciam surpresos, mas não
desaprovadores.
O entusiasmo da multidão convenceu os seguranças e a
polícia a entrarem em cena, balançando as cabeças e mexendo as pernas ao
som da música.
O Sound Central foi organizado por Travis Beard, um
fotojornalista australiano que entrou em uma banda quando se mudou para
Cabul e se inspirou no talento e dedicação dos músicos locais.
(Reportagem adicional de Zhou Xin)
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