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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Novo disco e longa vida ao rei dos 'blues'

B. B. King. Em 2006 anunciou que não mais iria voltar aos palcos. E escusou-se a confirmar qualquer data para regressar ao estúdio. Eis que surge 'One Kind Favor', num 2008 que trouxe ao 'bluesman' a companhia de T-Bone Burnett na produção e os clássicos do delta do Mississípi. Com 83 anos, o rei mantém o tronoMúsico já anunciou que vai regressar aos palcos com os novos temas B. B. King não quer desistir. Não lhe chega ter um feriado só seu em Portland, um monumento no interior do estado do Mississípi ou um restaurante no centro de Nova Iorque - até Times Square celebra os blues do homem que esta semana completou 83 anos e se despediu das digressões em 2006. Com One Kind Favor, o velho herói não encosta a sua Lucille a um canto mas vai preparando o caminho para a inevitabilidade que o persegue: B. B. King é feito de blues, não lhe digam que o destino não existe.Há um par de anos, num dos seus famosos últimos concertos, exclamou: "O meu actor favorito é Sean Connery, aquele que protagonizou Nunca Mais Digas Nunca." E, hoje, o "rei dos blues" (e o músico fez tudo para reservar este título) tem no seu website um link para o Google Maps com a localização dos seus próximos concertos nos EUA. Não acreditem na voz que canta orações para a sua própria morte. See that My Grave Is Kept Clean é o primeiro tema do novo disco mas é puro exemplo de ironia blues. B. B. King nunca conseguiu fugir ao papel de protagonista de enganos e surpresas e não vai deixar de o fazer. O enredo da sua transfiguração começa pelo nome. Baptizado em 1925 como Riley King, teria de criar a personagem certa para o exigente mundo dos blues - estes homens que cantam desventuras e tragédias como se fossem o sal dos dias são super--heróis, fazem pactos com o diabo e não têm morada. Riley não era nome para quem ambicionava ser rei. E este era apenas mais um detalhe, já que, em seu redor, cumpriram-se todos os restantes requisitos das verdadeiras estrelas do Sul dos EUA. B. B. King nasceu numa plantação de algodão no delta do Mississípi, perdeu mãe e avó entre os nove e os 14 anos, esqueceu o pai e passou a adolescência a fugir de casa sem destino. Em Indianola encontrou trabalho como condutor de tractores. Obrigatoriamente católico, foi voz de um coro de gospel antes de conhecer os blues de Sonny Boy Williamson ou Robert Junior Lockwood. Enganou--se a si próprio: casou-se e tornou-se agricultor. Resolveu o problema fugindo para Mênfis, onde encontrou o primo, Bukka White. Por coincidência do tal destino que o persegue, White era bluesman (um dos nomes grandes na década de 40) e ofereceu a primeira guitarra a B. B. King. O sucesso chegou-lhe em 1951, com Three O'Clock in the Morning, e King condicionou todo o seu caminho para não mais o perder de vista. Antes, tinha já inscrito o seu nome na história do rock'n'roll, quando Sam Phillips se apresentou como produtor ao seu serviço. O mesmo que acabaria por criar a Sun Records e revelar ao mundo heróis como Elvis Presley ou Johnny Cash. Pelo meio, teve tempo de sobra para se revoltar contra a segregação racial que o acompanhou desde novo, que o passou a elogiar quando ganhou fama. No entanto, tornou-se orgulhoso do seu Mississípi. Em tempos, só confessaria as suas origens a quem insistisse na pergunta. Hoje, repete-o uma e outra vez em voz bem alta, aproveitando cada ocasião em palco para se vangloriar do sotaque, da cor e das origens que carrega. A popularidade levou-o até a aproximar-se da heresia, quando se tornou familiar do circuito pop com temas como The Thrill Is Gone ou When Love Comes to Town (esta com os U2).Naturalmente boémio - e apostamos que a justificação do músico seria "porque assim tem de ser" -, foi marido e divorciado sempre que pôde. Conta a lenda que é pai de 15 filhos, mas nunca ninguém o comprovou. Nem o próprio B. B. King teria tempo para o saber com certeza: durante anos chegou a dar mais de 300 concertos, dizem alguns (nada especialistas na matéria) que esta é a razão da sua longevidade. One Kind Favor termina com Tomorrow Night, ode sobre lençóis trocados e roupa interior perdida. B. B. King continua a cantar sobre sexo e má vida e recusa-se a desistir. O destino existe mas até lá o futuro do rei é incerto.
http://dn.sapo. pt/2008/09/ 20/dngente/ novo_disco_ e_longa_vida_ rei_blues. html

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