Chuck Berry ao vivo em São Paulo - HSBC Brasil – 13/05
Uma visão recorrente em bairros tradicionais são aquelas velhas senhoras carolas, cuja hora mais emocionante do dia é a ida até a missa; infelizmente este ritual vem perdendo espaço para outras felicidades modernas que permitem até assistir a um culto pela televisão. Eu, como uma pessoa que adora rituais, me entristeço com a falta de percepção de que atos singelos ou frugais representem e nos tragam de ensinamentos. Portanto, sinto-me uma dessas velhinhas carolas, ao ir e sair de mais um show de Chuck Berry; ele fez sempre o mesmo, da maneira mais emocionante possível, por isso, pareço ler algo completamente inédito no meu velho missal. Não é o simples fato dele ser um dos inventores do rock, é o fato de que, com toda a sua mitologia, todas as lendas e verdades sobre sua personalidade, ele ainda ensine que rock é show, rock é teatro, rock é celebração, rock é um ritual. Se essa lamúria sobre o fim do disco, gravadoras, etc., focasse em ensinamentos ancestrais, veríamos que o disco acabou desprezado e virando algo caricato em bancas de camelô, por que seu conteúdo em muitos casos já ser um lixo! Pressões fizeram artistas geniais lançarem porcarias só pra cumprir tabela, ou criarem 70 minutos de música para preencher o tempo de um cd; seguindo este medíocre raciocínio, imagine hoje ter que preencher “quatro gigas” de um DVD virgem... Haja inspiração! Chuck Berry não grava nada novo há trinta anos, nem precisa! Este é o seu primeiro ensinamento básico; imaginem-no parado, compondo quietinho, tentando usar gírias atuais... Patético! Olhar este senhor de 83 anos no palco é ver uma saída para o futuro da música: “less is more”. Podíamos tirar o som do palco, que ele ainda seria mais rock que 80% do que existiu no gênero; seu show é “curto e grosso”; no máximo 60 minutos e sem bis, mas nesse pouco tempo ele brinca, tem músicas de sobra e até atende pedidos da platéia, esquece algumas das milhares de notas que já tocou e, no fim do show, ainda põe para dançar a mulherada em cima do palco! Sinceramente, já fui a muitos shows que torci para acabar e seja sincero: você também já fez isto, não é mesmo? Chuck sabe que o bom é ter motivo para querer mais. Uma pena é que ele pareça pregar para convertidos; sua platéia é recheada de “veteranos”, mas em uma semana de “virada cultural” na capital de São Paulo, cuja proposta é um fast food empanturrador, é um paradoxo não oferecer este biscoito fino.
Hail! Hail! Rock 'n' Roll...
Em 1987, foi lançado o documentário: Chuck Berry Hail! Hail! Rock 'n' Roll”, que mostrava um concerto no Fox Theatre in St. Louis, para celebrar os 60 anos de Berry. O documentário também servia para falar sobre a vida e carreira dele. Este concerto foi conduzido por Keith Richards, que convidou nomes como Robert Cray, Joey Spampinato, Eric Clapton, Johnnie Johnson, participações ainda de Etta James, Linda Ronstadt e Julian Lennon. Depoimentos e cenas antigas recheiam o documentário, muito bom para saber mais sobre Chuck Berry; confira se puder!
Por Roberto Maia às 09h57
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