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sábado, 25 de abril de 2009

Roberto Carlos antes da Jovem Guarda

Vejam só estes depoimentos sobre Roberto Carlos. Trata-se de pessoas que o conheceram em Porto Alegre entre 64 e 65.

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O meu amigo Roberto Carlos
Entre o estúdio da TV Gaúcha, uma reunião dançante e shows na Capital e em Rio Grande, Roberto Carlos fez uma pequena história 45 anos atrás no Estado. Sete pessoas que conheceram o cantor recordam de um jovem humilde, afável e com carisma e talento
20 de maio de 1964

Iberê Crivella, 56 anos, industrial

Eu tinha 11 anos. Durante um almoço, meu pai, Amaury (já falecido), perguntou se eu conhecia um tal de Roberto Carlos, se ele era bom. Respondi que sim, que era mais que bom. Então meu pai explicou que o Roberto estava vindo a Porto Alegre para fazer um programa na TV Gaúcha, patrocinado por uma multinacional, mas que a empresa tinha mudado de ideia na última hora porque não queriam associar a imagem ao cantor. O Vagner, que era contato comercial da TV Gaúcha, propôs que a nossa empresa patrocinasse. Meu pai topou, para fazer propaganda do nosso principal produto, o Ces-Odor, primeiro desodorante em bastão para axilas. O show foi nos estúdios da tevê, sem público. Eu e meu pai assistimos, detrás das câmeras. Antes, Roberto nos cumprimentou, humilde e atencioso. Depois, sentou num banquinho para afinar seu violão. Era só ele e o violão. A apresentação foi transmitida ao vivo, no dia 20 de maio de 1964, e durou meia hora. O que mais me
chamou a atenção no RC foi a roupa - calça justa e camisa branca bem simples - e o jeito dele, meio tímido, que formava um tipo bem-comportado.

20 de dezembro de 1964

Ayrton dos Anjos, 67 anos, produtor musical

No início dos anos 1960, eu era representante e divulgador da gravadora Columbia. A juventude era muito influenciada pelo rock´n´roll e twist americanos, de Pat Boone, Elvis Presley, Bill Halley e seus Cometas, Chubby Checker. A gente assistia muito aos filmes musicais americanos, que mostravam esse pessoal todo. Mas, naquele ano, houve uma ruptura. Despontaram os Beatles e surgiu também a Jovem Guarda. Acho que a principal razão do sucesso do Roberto era trazer uma nova linguagem, um rock brasileiro. Músicas como Splish Spash e O Calhambeque eram quase infantis e contavam uma historinha inclusive com onomatopeias. Eram ingênuas como a nossa geração, em que quase ninguém fumava e em que beijar era compromisso sério. Em 1964, a gravadora me deu um Fusca zero quilômetro para eu rodar pelo Interior gaúcho. Conheci pessoalmente Roberto no dia 20 de dezembro de 1964. Ele faria show no Cine Cacique no dia seguinte. No aeroporto, havia umas
quatro ou cinco meninas fãs dele. Uma delas estendeu uma foto para o RC autografar, e ele, por engano, assinou em cima da imagem dele. Aí, o Roberto pediu a foto para a guria e autografou outra fotografia, dessa vez sem que a assinatura passasse por cima da imagem dele. Aí, eu vi que ele era um cara bem supersticioso. Pegamos o carro, e o Roberto comentou "Pô, cara, esse carro era para ser meu. Me acidentei (o Bel Air em que estava Roberto capotou entre as cidades de Três Rios e Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro em julho de 1964) e pedi um carro novo para a CBS, mas eles disseram que já tinham dado para um representante no Sul". De tarde, fomos até a Rádio Difusora, que ia promover o show no domingo de manhã. De noite, peguei o Roberto no hotel e o levei para uma reunião dançante. Ele ficou só olhando as pessoas dançando, mas já se percebia o carisma dele. Ele usava botinhas, coisa que nenhum de nós sequer ousaria pensar naquele
momento. Não segui com ele na noite. Emprestei o carro, dei as instruções para ele chegar na Churrascaria Recreio Avenida, na Presidente Roosevelt, e ele foi para lá com uma amiga minha. Dias depois, ela comentou comigo "Que amiga incrível que você tem". No domingo pela manhã, fomos até o Cine Cacique. Na saída, as fãs amassaram o meu Fusca novinho, querendo chegar perto do Roberto.

20 de dezembro de 1964

Marilú Roennau Barison, 67 anos, dona-de-casa

Naquela época, fazíamos muita reunião dançante na casa de amigos, geralmente nos finais de semana. Na eletrola, tocava Paul Anka, Elvis Presley, The Platters, algum Beatles, Celly Campello, Sergio Murillo... Para comer e beber, refrigerantes e Cuba Libre (Coca com rum), pizza caseira daquela altona e sanduíches. Todos entre 16, 17 anos, ninguém fumava, ninguém ficava torto de bebida, às vezes ficava uma mãe na sala... Uma das reuniões foi em cima da Importadora Americana, ali na Farrapos. Surgiu um zum-zum, dizia-se que o Roberto Carlos ia aparecer, trazido pelo Ayrton. Ele chegou, e não foi nenhum tcham. Na época, não tinha nem máquina fotográfica para registrar. Me lembro de ele chegar bem humilde, se encostar no balcão e ficar vendo a gente dançar. Ele usava aquele cabelinho com a franjinha para o lado. Parecia extasiado com a pureza da coisa. Ficou ali por uns 40 minutos, falando só o trivial, pois queria sair para a noite com o
Airton. "

21 de dezembro de 1964

Sergio Stosch, 62 anos, músico, radialista e professor universitário

Em meados dos anos 1960, eu fazia parte do grupo The Dazzles, que tinha no repertório alguns sucessos do Roberto Carlos. Acho que isso ajudou a que fôssemos escolhidos para acompanhar RC no show que ele fez no Cine Cacique, em comemoração ao aniversário do programa Lacta Clube, domingo de manhã (21/12/64). Às 15h de sábado, ele chegou na Rádio Difusora para dar entrevistas e ensaiar. Era um cara simples, parecia um cara da nossa banda. Disse qual era o repertório, a gente tocou duas vezes cada música, por uns 90 minutos e pronto. Depois do ensaio, fomos beber uma Coca numa lancheria ali na Rua Uruguai. Disse para algumas gurias "Olha, esse é o Roberto Carlos". Elas não acreditaram: "Ah, para". A imagem de Roberto ainda não estava popularizada, o que só aconteceu com a estreia do programa Jovem Guarda na TV (em agosto de 1965). Percebi o carisma dele quando subiu ao palco. Parecia beatlemania. Não deu para ouvir quase nada do que
ele cantou, tamanha a gritaria. Eram 2 mil pessoas gritando. RC usava paletozinho e gravatinha twist, aquela fininha. Havia poucos amplificadores e só dois microfones - um para o cantor, outro que foi colocado para amplificar a buzina que coloquei em cima do piano de cauda onde toquei. Era o efeito indispensável de Calhambeque. Falamos pouco depois do show, porque, claro, tínhamos de desmontar os equipamentos. O fenômeno Roberto Carlos coincidiu com a popularização do disco. Antes, só quem tinha dinheiro possuía discos. Nos anos 1960, o disco ficou barato. "

21 de dezembro de 1964

Carlos Alberto Carvalho, 70 anos, Professor universitário

Em 1964, eu era apresentador do programa Lacta Clube, da Rádio Difusora. Era um programa transmitido aos domingos, voltado para a juventude estudantil, promovendo apresentações, torneios. Já tínhamos trazido o Demetrius e o Tony Campello, e decidimos trazer o Roberto Carlos para comemorar o aniversário do programa. O show foi às 10h de 21 de dezembro de 1964, no Cine Cacique, e teria sido a primeira vez que ele cantou na capital gaúcha. Convivi com ele entre sábado e domingo, e me ficou a impressão de alguém gentil e educado. Ainda no sábado, ele ensaiou com o The Dazzles. No domingo pela manhã, entre 8h e 9h, antes do show, pediu para passear de carro pelo cento de Porto Alegre. Quando chegamos perto do Cacique, a fila já dava a volta no quarteirão. Acho que tinha mais de 2 mil pessoas no cinema, entre sentadas e de pé, espalhadas pelo corredor. O público cantava junto Calhambeque.

15 de maio de 1965

Nestor Mattos, 70 anos, empresário da área musical

Em 1964, eu fazia parte do quinteto Vocalistas do Luar, contratado da Rádio Gaúcha. Fui procurado por alunos do Colégio Parobé, que queriam trazer o RC. Era para uma festa que seria realizada dia 15 de maio de 1965, no salão do Círculo Militar, que funcionava no 6º andar do Grande Hotel (esquina da Caldas Junior com Andradas). O Jayme Sirotsky deu a passagem aérea para a vinda do RC. Os alunos conseguiram um calhambeque vermelho para trazer o Roberto desde o aeroporto, pela Avenida Farrapos toda, com um caminhão dos bombeiros escoltando. O show começou às 2h15min, com umas 300 pessoas no salão. Era o Roberto com guitarra, mais o Paulo Coelho em outra guitarra, mais um contrabaixo e uma bateria. Sem ensaio algum. Depois do show, ficamos eu, RC e os alunos do Parobé em uma mesa, conversando. Às 5h, quando íamos saindo, já com os garçons empilhando as mesas, o Salomão Platcheck, da foto Appolo, pediu para bater uma "chapa". Cinco anos
depois, o RC autografou essa foto e fez o comentário "Bicho, como a gente era devagar...". Dava para ver que ele seria um sucesso. Além de ser humilde e comunicativo, sempre conversando com o público entre as músicas, ele vinha preencher uma lacuna na música brasileira, propondo um romantismo que não era cafona. Tinha uma voz pequena, mas sabia usar o microfone e era afinadíssimo.

Entre maio e agosto de 1965

Lauro Barra, 76 anos, promotor de eventos, proprietário da Star Discos entre 1958 e 1982

Íamos inaugurar a nova filial da Star Discos, na Galeria Chaves, e imaginamos uma atração de peso, especialmente para os jovens. Liguei para a CBS e falei com o Othon Russo, que me indicou um grupo de artistas, um pacote "jovem guarda" com Roberto Carlos, Wanderléa, Renato e seus Blue Caps. Era pouco antes de começar o programa Jovem Guarda (que estreou em 22 de agosto de 1965, na TV Record, de São Paulo, e ficou no ar até 1969). Eles vieram para fazer uma sessão de autógrafos na loja e mais três shows - dois em Porto Alegre e um em Rio Grande. Fui buscá-los no aeroporto para levá-los até o Hotel Líder, na Andrade Neves. Eram artistas novos, humildes, mas se percebia a ascendência de Roberto. Fomos andando do hotel até a loja, pela Borges de Medeiros, sem problemas. Mas, na entrada da galeria, havia tumulto. Entramos correndo. As meninas chutavam, mordiam, choravam. Para sair da loja, usamos um subterrâneo da galeria. Os primeiros
shows eram na quinta-feira - das 18h às 20h, no Leopoldina Juvenil, às 21h, no ginásio do Grêmio Náutico União. Na sexta, iríamos para a Associação dos Funcionários da Ipiranga, em Rio Grande. Quando chegamos no Leopoldina Juvenil, havia umas 1,5 mil pessoas, entre jovens e society. Roberto foi ovacionado, mas sem exageros. Depois deste show, caiu uma chuva torrencial. Os carros não podiam andar, e decidimos ir a pé do Leopoldina para o União, por umas cinco quadras. Todos os músicos tiraram os sapatos, arregaçaram as calças e enfrentaram as ruas alagadas - menos o Roberto. Não tinha o público que a gente esperava no União, porque muitos tinham ido embora com a chuva. Roberto tocava sozinho com a guitarra, no final toda a jovem guarda cantava uma música.

No camarim, depois do show, havia umas 50 fãs esperando o Rei. Ele foi totalmente acessível, inclusive interferia quando se queria afastar algum. Depois, fomos todos para uma galeteria. Descontração total, com destaque para o Jerry Adriani. O RC era mais tímido, ficava dizendo "Fulano, conta aquela piada". Mas, ele, não.

Na sexta de manhã, viajaríamos para Rio Grande, mas os fãs cercaram o hotel. A solução foi encostar uma camionete na porta do hotel. Colocamos dois colchões, fazendo um caminho até a entrada da camionete, para os artistas correrem e pularem lá para dentro. O Roberto deu uma corridinha, mas os seguranças o ajudaram a subir.

Roberto estava sempre ao lado de Wanderléa, seja no carro, seja nas viagens. O show em Rio Grande foi sensacional - uma carreata nos levou pela estrada a caminho da Capital. Eu sentia que Roberto era uma estrela nascendo, mas achei que era só da Jovem Guarda. Um dos maiores talentos dele, o de compositor, ainda não tinha se revelado.

Um rei antes do trono
O Roberto Carlos que circulou em Porto Alegre entre 1964 e 1965 era um jovem de guitarra em punho, roupas diferentes e ideias revolucionárias na cabeça
Roberto Carlos é plural - e não é só porque seu nome termina por s. Compare as duas fotos reproduzidas nesta página: a da esquerda registra um cantor quase intimidado, tentando se afirmar no início de 1965, a outra flagra um ídolo nacional senhor de si e de um público de dimensões nacionais e faixa etária adolescente.

No ano em que Roberto Carlos comemora seu cinquentenário de reinado (ou carreira musical), o caderno Cultura foi atrás dos depoimentos de gaúchos que estiveram em contato com cantor nesse meio tempo, antes que o programa Jovem Guarda estreasse na TV Record e mudasse a música brasileira a partir das 16h30min de 22 de agosto de 1965.

Essa afirmação não é exagerada: antes de estrelar o programa e assumir em preto-e-branco o comando de um bem-comportado movimento jovem guarda, Roberto era apenas mais um cantor capaz de sucessos como Splish Splash, O Calhambeque e É Proibido Fumar. Depois que o programa Jovem Guarda foi ao ar, chegando a atingir quase três milhões de espectadores só em São Paulo, em seus picos de audiências, Roberto se tornou um dos primeiros ídolos midiáticos brasileiros. Seu reinado não se restringia ao disco - ele pilotava um programa de TV e um movimento de cantores (Wanderléa, Erasmo Carlos, Martinha, Leno e Lilian, Deny e Dino, Os Vips e Renato & Seus Blue Caps, entre muitos outros). Além disso, alinhado com a recente descoberta ocidental de que os adolescentes podiam ser um público consumidor respeitável, Roberto vendia comportamento na forma de gírias em seu programa (bonito era "pão", legal era "Uma brasa, mora"), calças
duas-faces, minissaias com botas de cano alto, bonecas e botinhas.

RC já havia gravado um elepê em 1961, emulando seu ídolo João Gilberto - mas a gravação foi rejeitada primeiro pelos bossa-novistas e pelo público (vendeu menos de 500 exemplares), e depois pelo próprio Roberto. Em 1964, entretanto, o cachoeirense já tinha encontrado seu caminho e estava pronto para se tornar Rei, apesar de a concorrência para assumir o trono da música brasileira fosse acirrada e heterogênea. Quem girasse o dial do rádio ou TV topava com boleros, como Que Queres Tu de Mim, joias raras, como Inútil Paisagem, e bossas já não tão novas, como Telefone. Ronnie Cord e Sérgio Murillo já antecipavam um iê-iê-iê nacional, embora a palavra iê-iê-iê só começasse a existir de fato em janeiro de 1965, quando a Odeon lançou o elepê A Hard Day´s Night, dos Beatles, rebatizado como Os Reis do Iê-Iê-Iê, parafraseando o refrão beatle "She loves you, yeah, yeah, yeah". Mas Roberto e Erasmo Carlos descobriram o pulo
do gato (ou Negro Gato, se a gente quiser lembrar outro grande sucesso de RC). Splish Splash e O Calhambeque, por exemplo, eram assumidamente ingênuas, narrativas diretas que incluíam até buzinas de carro, quase desenhos animados e musicais. No Brasil adulto, uma revolução (ou golpe militar, dependendo de que lado se estava) estava mudando o Brasil - a jovem guarda se contentava em criar a trilha sonora para jovens tardes de domingo.

Hoje, Roberto tem 68 anos, e certamente vai reunir mais de um milhão de amigos no show que fará na Avenida Paulista, no dia 1º de dezembro. É nosso Rei inconteste. Mas, entre em 1964 e no primeiro semestre de 1965, era apenas um príncipe tímido, reconhecido apenas como intérprete, não como o compositor que criaria marcos da canção brasileira com Detalhes, Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos, Emoções e Quero que Vá Tudo pro Inferno. Mas os gaúchos que cruzaram com ele naquela época logo perceberam que ele já tinha a majestade. Confira os depoimentos de quem o conheceu na época na página central.

João Lennon

http://br.geocities .com/beachboysbr azil
http://earlybeatles .cjb.net

Um comentário:

Unknown disse...

Oi gente!
Por causa do Dia Mundial do Rock, a T-Brasil selecionou todas as camisetas do universo do Rock, inclusive das estrelas mais antigas, como Roberto Carlos, Elvis, John Lennon..
Todas elas estão com 40%! Basta me deixar um scrap no Orkut (Gabi T-Brasil), com a frase: "rock na veia"!
Tenho certeza que após você usar a camiseta, mil garotas vão querer passear com você ;)