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sexta-feira, 3 de abril de 2009

'London calling', do The Clash, completa 30 anos com teor revolucionário intacto

Publicada em 02/04/2009 às 08h43m

Ricardo Calazans

O grupo The Clash / Divulgação

RIO - Em 2009, o disco "London calling", do The Clash, completa 30 anos. Até aí, nada demais: na interminável - e cada vez mais extensa - lista de efemérides do rock, há sempre um fato a se comemorar. Este ano, por exemplo, são vários: as cinco décadas do "Kind of blue" de Miles Davis, os 15 aniversários do "Definitely maybe", do Oasis, ou até mesmo os 10 anos de "...Baby one more time", de Britney Spears. O "London calling", porém, mantém-se intacto, desde 1979, como um totem para as gerações que vêm ouvindo e se deixando influenciar por sua riqueza musical e postura revolucionária. No Brasil, inclusive.

- O "London calling" mais que mudou minha vida. Ele inventou uma vida para mim. É um disco fundamental da mais importante banda de rock de todos os tempos, na minha opinião, e que definiu o rock moderno, com a mistura de rock tradicional, punk rock, reggae, funk, rap e hip-hop, que ainda eram embrionários na época - define o guitarrista dos Titãs, Tony Bellotto, de 48 anos.

Veja vídeos de 'London calling' e 'Train in vain'

Artistas brasileiros falam sobre a influência do 'London calling'

Clash não sobreviveu ao próprio sucesso

Antes do "London calling", o punk era brincadeira de adolescentes na segunda metade da década de 70. Os Sex Pistols se vendiam como perigosos anarquistas que cuspiam no sistema. O Clash, que surgiu na esteira do barulho provocado pela banda de Johnny Rotten e Steve Jones, queria muito mais: sonhava derrubar o sistema inteiro com as guitarras "proletárias" de Mick Jones e Joe Strummer. Não chegou nem perto disso, mas mudaram a face tosca do punk rock com a coleção sortida de composições do "London calling", seu terceiro disco. De quebra, fez o mesmo por milhares de adolescentes ao redor do mundo no início dos anos 80.

E seguiu assim ao longo dos anos. Nos anos 90, o líder do Vanguart, Hélio Flanders, conhecia o Clash como a banda do comercial de jeans ("Should I stay or sould I go", que, aliás, está de volta à TV em uma propaganda de operadora de celular), até dar de cara com o "London calling", aos 12 anos. Pirou com o disco.

- Acho que o "London calling" contribuiu para que muitos garotos descobrissem que nada era mais punk e livre do que flertar com diversos estilos de música, sem se preocupar em arriscar e sem perder a verve da rebeldia e contracultura do punk - diz o músico de Cuiabá, hoje com 24 anos.

O título do disco deixava clara as intenções incendiárias da banda: "London calling" era o nome de um programa de rádio que a BBC londrina transmitia durante a resistência britânica na Segunda Guerra Mundial. Tudo a ver com o Clash, que posava de fora-da-lei e dizia fazer música de guerrilha (seus discos posteriores, "Sandinista" e "Combat rock", foram ainda mais explícitos). Tinham fama de intratáveis e irascíveis, embora alguns fãs levantassem dúvidas sobre a autenticidade da revolta de Strummer, que não era pobre o suficiente para ser punk, e até mesmo sobre o sotaque de Jones. Para domá-los no estúdio, foi convocado o velho arruaceiro Guy Stevens, conhecido por ter "descoberto" o The Who nos anos 60 e pelo estranho hábito de destruir propriedades.

Capa do álbum de estreia de Elvis Presley, 'homenageado' pelo Clash / Reprodução Capa do 'London calling' / Reprodução

Stevens incentivou a banda a buscar mais "honestidade" do que apuro técnico na execução das 19 faixas do disco. "London calling" foi lançado como álbum duplo em 14 de dezembro de 1979 - pelo preço de um disco comum, como convinha a seus ideais "revolucionários" . A capa também entrou para a história: cita graficamente o disco de estreia de Elvis Presley. No lugar de um galã, porém, o que se vê é uma foto desfocada de Simonon um segundo antes de despedaçar seu baixo num show em Nova York, em 1979.

O desprendimento estilístico do "London calling" (em relação ao punk que rezava pela cartilha ortodoxa dos três acordes) representou o grande avanço do Clash na entrada dos anos 80. No disco, Jones, Strummer, o baixista Paul Simonon e o baterista Topper Headon foram destemidos ao explicitar seus flertes com o reggae ("Guns of Brixton", composta e cantado por Simonon), rockabilly ("Brand new cadillac"), ska ("Wrong 'em Boyo") e até mesmo jazz ("Jimmy jazz").E, suprema heresia para os punks mais radicais, mergulharam de cabeça no pop que ousa dizer seu nome em músicas como "Train in vain", "London calling" (os dois hits do álbum), "Lost in the supermarket" e "Spanish bombs". Deixaram de ser punks de carteirinha e se tornaram uma das maiores bandas do mundo.

http://oglobo. globo.com/ cultura/mat/ 2009/04/01/ london-calling- do-the-clash- completa- 30-anos-com- teor-revoluciona rio-intacto- 755085685. asp

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