Desde o início de sua carreira artística, Elvis Presley gerou controvérsia, e sua morte não foi exceção
Em um estranho golpe de coincidência, em 1º de agosto de 1977, 15 dias antes da morte de Elvis, a Ballantine Books publicou um livro, Elvis: O que Aconteceu?, escrito por Steve Dunleavy. Ele consistia em entrevistas com três antigos guarda-costas de Elvis: Red West, Sonny West e Dave Hebler. Esses homens foram os primeiros a divulgar histórias do estilo de vida bizarro de Elvis. O livro falava de suas alterações de humor, seus relacionamentos com mulheres e do seu uso excessivo de drogas medicamentosas. O livro recebeu praticamente nenhuma publicidade até que o jornalista Bob Greene, um colunista da Chicago Sun-Times, entrevistou Sonny West. Por coincidência, o artigo foi publicado no dia em que Elvis morreu. A coluna de Greene provocou muito protesto de fãs por todo o país e gerou a ira de vários jornalistas, incluindo Geraldo Rivera, que "detonou" Dunleavy em Good Morning America por difamar o nome de Elvis. A história do guarda-costas era difícil de acreditar por várias razões. Nada disso havia sido revelado em ampla escala antes porque, basicamente, Elvis soube manter seus hábitos excêntricos e comportamento errôneo longe da imprensa. Dunleavy também não tinha credibilidade. Ele era repórter do tablóide The National Enquirer quando começou a trabalhar no livro sobre o Elvis e foi contratado pelo controverso jornal New York Post quando Elvis: O que Aconteceu? foi publicado. Dunleavy apareceu no documentário da NBC sobre Elvis que foi levado ao ar na manhã de sua morte. O repórter cometeu um erro ao usar o termo "lixo branco" em referência a Elvis, e isso soou como chumbo derretido sobre os fãs. Porque Dunleavy não era popular nem com o público nem com a imprensa e porque Vernon havia demitido os três guarda-costas no ano anterior, muitas pessoas acreditaram que seu relato escandaloso da vida de Elvis se devia ao revés de ter sido demitido. Dunleavy foi acusado de ter manipulado a história para torná-la o mais sensacionalista possível.
A autópsia não revelou nenhuma informação substancial. A família pediu uma autópsia particular, e as descobertas exatas não foram reveladas ao público. Todos os laudos, anotações e fotos relacionadas com a autópsia desapareceram para sempre em 19 de agosto, e o conteúdo do estômago de Elvis foi destruído antes que análises adicionais fossem feitas. Qualquer evidência concreta de uma morte relacionada a drogas somente poderia ser encontrada em um laudo de autópsia lacrado. Dois anos depois, em 13 de setembro de 1979, a revista de notícias da ABCTV, 20/20, publicou uma matéria intitulada "O Acobertamento de Elvis" e os detalhes que circundavam a morte de Elvis começaram a assumir ares de um romance de mistério. Essa reportagem investigativa, produzida por Charles Thompson com texto de Geraldo Rivera, marcou a primeira grande atenção da mídia nacional devotada a rumores de uma morte relacionada a drogas medicamentosas. O programa tentou apontar a causa exata da morte de Elvis e conseguiu chegar ao ponto de abrir um processo no dia 19 de agosto para obter uma cópia do laudo da autópsia do Dr. Jerry Francisco, o legista do Tennessee. Quando Francisco se recusou a mostrar o laudo, a revista 20/20 o acusou de participação em um acobertamento. O legista convocou uma conferência com a imprensa para declarar que não estava envolvido em nenhum acobertamento. Após a reportagem da 20/20, oficiais do Condado de Shelby foram pressionados a abrir uma investigação criminal do caso, mas, no fim, eles desistiram de fazer isso. O processo, movido por Thompson e pelo repórter local de Memphis, James Cole, eventualmente foi parar na Suprema Corte do Tennessee. Em 1982, a corte declarou que Francisco não era obrigado a revelar os resultados da autópsia porque o laudo pós-morte havia sido requerido pela família. Enquanto isso, o médico de Elvis em Memphis, Dr. George Nichopoulos (Dr. Nick), foi levado perante o Conselho de Médicos Legistas do Tennessee sobre várias acusações relacionadas à prescrição excessiva de drogas a Elvis Presley e outros pacientes. Em janeiro de 1980, o conselho suspendeu sua licença por três meses por prescrição indiscriminada e por ceder substâncias controladas a dez pessoas, incluindo Elvis e Jerry Lee Lewis. Apesar das conclusões do conselho não desafiarem a autoridade oficial de Francisco sobre a causa da morte de Elvis, a investigação revelou histórias sobre o uso intensivo de drogas medicamentosas pelo cantor. Os rumores exagerados que pairaram por mais de dois anos foram quase nada em comparação aos terríveis detalhes que surgiram no testemunho do Dr. Nick: ele havia receitado a Elvis mais de 12 mil pílulas e frascos de drogas potentes nos últimos 20 meses de sua vida. Ele havia sido hospitalizado várias vezes devido a inchaços da cabeça aos pés decorrentes do uso inadequado dessas drogas. Sempre que ele viajada para fazer shows, carregava consigo três maletas de pílulas e suprimentos, dos quais sua comitiva inteira fazia uso livremente. Essas histórias ressurgiram em novembro de 1981 quando Nichopoulos foi oficialmente acusado em uma corte criminal por 11 crimes dolosos de prescrição excessiva de drogas medicamentosas para nove pacientes, incluindo Elvis e Jerry Lee Lewis. Ele foi absolvido. Cinco novas acusações foram feitas contra ele em 1992 pelo estado do Tennessee por prescrição excessiva de drogas a Elvis. Naquela época, o Departamento Estadual de Saúde estava determinado a cassar a licença profissional do médico permanentemente. Com o passar dos anos, a causa da morte de Elvis geralmente tem sido apontada como o uso simultâneo de diversos medicamentos, ou a interação de várias drogas. Isso se baseia nas informações reveladas pelos testes de Nichopoulos como também pelas declarações feitas pelo Dr. Eric Muirhead, patologista do Baptist Memorial Hospital, e pelo Dr. Noel Foredo, que estava presente na autópsia. Enquanto isso, a luta para a divulgação dos resultados da autópsia continuava. Em 1991, a ABC foi aos tribunais para forçar Francisco a apresentar o laudo da autópsia. Em maio de 1993, a Comissão do Condado de Shelby entrou com um processo para forçar o estado do Tennessee a reabrir uma investigação sobre a morte de Elvis. Com isso, as anotações da autópsia (mas não o laudo) foram fornecidas ao patologista forense para ajudar a encerrar as disputas sobre a causa real da morte. A espontânea manifestação de dor sobre a morte de Elvis, a extensa cobertura da mídia impressa, e as condolências vindas de todo o mundo lembravam o luto que ocorre quando um líder de estado morre. Centenas de editoriais tentaram compendiar o lugar de Elvis em nossa cultura. Pela primeira vez, a nação inteira pareceu perceber que Elvis havia mudado a maneira como as pessoas se vestiam, como andavam, a música que ouviam e o tipo de herói no qual acreditavam. Com o passar do tempo, muitas pessoas sentiram que a morte de Elvis marcou o final de uma era, como também o fim de uma carreria lendária, mas isso não se mostrou verdadeiro. Após a morte de Elvis, a mitologia ao seu redor continuou a crescer com cada nova revelação sobre sua vida pessoal e cada nova reinterpretaçã o de sua contribuição à cultura popular. Elvis, o homem, morreu em 16 de agosto de 1977, mas Elvis, o mito, continua a florescer.
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