A parceria do grego com o grupo carioca será conferida nos palcos em junho, quando o espetáculo entra em cartaz no Rio. Depois, parte para a sonhada terra onde o teatro nasceu – e que serve de base para artistas, dramaturgos e demais envolvidos nas artes cênicas até hoje. A Grécia de seu diretor, claro.
terça-feira, 2 de junho de 2009
Diretor grego encena "As bacantes" com o Nós do Morro
Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil RIO - Samba, bossa nova, tropicalismo, Augusto Boal, Nelson Rodrigues... O diretor teatral grego Sotiris Karamesini discorre com tamanha fluência sobre nomes e acontecimentos culturais brasileiros que nem parece estar pela primeira vez por aqui. Morando há apenas oito meses na favela do Vidigal, ele prepara desde o início do ano o grupo Nós do Morro para uma aventura tipicamente grega: encenar a tragédia As bacantes, reconhecido culto a Dionísio, ou Baco, o Deus do vinho, do dramaturgo ateniense Eurípedes. – Estudo o Brasil há 10 anos, sou um apaixonado – conta o diretor em um português capenga, porém esforçado, do alto de um varandão na sede do Nós do Morro, em pleno Vidigal. Anoitece. As estrelas se confundem com a frisa de pequenas luzes projetadas pelos casebres da comunidade. Totalmente a vontade no lugar, o “gringo” continua: – Estava tendo aulas de percussão brasileira em Paris quando, fuçando notícias sobre como estavam as coisas por aqui, descobri que existia este projeto social e cultural que tinha o teatro como fio condutor. Comecei a ver os atores participando em filmes como Cidade de Deus e ficava de lá sempre acompanhando. Mas eles aqui nem imaginavam.
A parceria do grego com o grupo carioca será conferida nos palcos em junho, quando o espetáculo entra em cartaz no Rio. Depois, parte para a sonhada terra onde o teatro nasceu – e que serve de base para artistas, dramaturgos e demais envolvidos nas artes cênicas até hoje. A Grécia de seu diretor, claro. – Já temos convite para ir ao Festival Internacional de Delfos, que é evento teatral muito importante na Europa – adianta Karamesini. – Esta não será uma adaptação de As bacantes e sim a peça no original. Nada daquilo que alguns viram numa releitura que o Zé Celso colocou até o Caetano Veloso para tirar a roupa em cena. O desafio proposto pelo diretor do Nós do Morro, Guti Fraga, foi justamente colocar essa moçada de cara com o verdadeiro e original teatro grego. Estou passando uma metodologia totalmente nova para eles. Karamesini relaciona a relação dos gregos com os palcos ao vínculo quase que umbilical do brasileiro com o futebol e o samba. Nascido e criado respirando teatro com a mesma fixação de quem acompanha a Copa do Brasil ou o desfile das campeãs, iniciou seus estudos aos 22 anos com um dos maiores nomes das artes cênicas da Grécia, o diretor Sotiris Hatzakis. Bastante conceituado em seu país – e também no exterior, já tendo ministrado oficinas na Filadélfia – a versatilidade de Karamesini transita do infantil Pequeno príncipe à recriação da clássica comédia The lover, de Harold PInter, e ao espetáculo de dança Dreamstream, baseado na obra de James Joyce. Hoje, com 40 anos, trocou os ares mediterrâneos de seu país para “vivenciar algo único e apaixonante”, como define a vida em um morro do Rio. Tal como um Samurai da também milenar cultura japonesa, passa adiante os conhecimentos adquiridos por seu mestre. – Queria ter essa experiência, essa troca, e está sendo algo muito forte. Agora estou vendo os dois lados, que aqui não é só alegria e samba. Os dias no morro são de trabalho duro – define. – Aqui me sinto seguro, participando voluntariamente de um projeto social de arte sem fins lucrativos. Não sinto que a violência que existe no Rio seja menor que nos Estados Unidos. Ao dar de cara com a realidade antes só conhecida através de relatos, sites e filmes, o diretor compara as caricaturizações de ambas as culturas. – Tem um anúncio na TV que mostra um monte de gregos quebrando os pratos, quebrando tudo em casa - descreve. – Claro que nós não somos assim, mas tem um pouco disso. Assim como lá fora eu ouvia falar que Brasil é só futebol, samba e mulheres de bunda grande.
A parceria do grego com o grupo carioca será conferida nos palcos em junho, quando o espetáculo entra em cartaz no Rio. Depois, parte para a sonhada terra onde o teatro nasceu – e que serve de base para artistas, dramaturgos e demais envolvidos nas artes cênicas até hoje. A Grécia de seu diretor, claro.
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Um comentário:
Como vejo muitas coincidências entre o trabalho do Sotiris e o meu, queria me manifestar e, se possível, entrar em contato com ele. Meu nome é Jeane Doucas, sou filha de pai grego, sou atriz e diretora e ano passado estive na Grécia para estudar tragédia grega através de uma bolsa da Fundação Onassis. Lá, estudei no DESMOI com Lidia Koniordou e dirigi Hécuba e montei um solo. Conheci também o diretor Terzopoulos e Marta Frintzila que me abriram seus espaços. Este ano recebi o prêmio Miryam Muniz de teatro para montar As Bacantes com não atores da cidade de Viçosa, MG, onde moro. Começo os ensaios em Agosto e no projeto está previsto eu trabalhar com meninos e joves das periferias daqui. Bem, depois desse relato todo, só me resta conhecer pessoalmente o Sotiris para trocar-mos figurinhas. meu e-mail é: jeane.doucas@gmail.com.
Gracias!
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