Páginas

domingo, 21 de junho de 2009

Os 90 anos do boêmio Nelson Gonçalves

Divulgação

Foto: Divulgação

Eu nasci numa família que considero romântica. Nos últimos dias tenho pensado muito no passado, quando eu era garoto e meus pais se sentavam em casa para ficar provando aquela comidinha caseira, tomando um aperitivo e ouvindo música durante um sábado ou domingo. Na casa dos meus pais ainda é assim, quando os filhos, netos, parentes e amigos dão uma chegada por lá e podem curtir momentos assim. E um dos cantores que eles sempre ouviam sempre me chamava a atenção pela voz forte, afinada e marcante, que eu aprendi a gostar. Não sabia eu que era, pelo menos pra mim, o maior cantor que o Brasil já teve: Nelson Gonçalves. Hoje, o "velho boêmio", como ficou conhecido, faria 90 anos e ficou marcado, além da voz, pela luta que conseguiu ganhar das drogas, bem antes de partir para outro plano, em 1998.

Antônio Gonçalves Sobral, o nome verdadeiro do velho Nelson, nasceu em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, num dia como hoje, em 1919, e chegou a ser o segundo maior vendedor de discos da história do Brasil, com 78 milhões de cópias até o ano de sua morte, ficando atrás apenas de Roberto Carlos, com oitenta milhões no mesmo período. Mesmo com o apelido de "Metralha", por causa da gagueira, decidiu ser cantor. O velho Nelson passou uma parte da vida como cocainômaco, quando descobriu a droga em 1958. Chegou a ser preso durante um tempo um mês por porte de entorpecentes e quase acaba com a vida artística.

Cansada de vê-lo se acabando e detonando uma brilhante carreira, Maria Luiza da Silva Ramos, que era secretária de Nelson e acabou se casando com ele, resolveu se trancar com o marido em casa, isolou janelas e portas, fazendo um certo tipo de tratamento de choque. Conseguiu tirar ele do vício. Era 1965 e o cantor voltou a fazer sucesso e superar as crises.

Apesar de ter gravado músicas marcantes na história da música popular brasileira, como "Maria Bethânia", de Capiba, ou "Caminhemos" , de Herivelto Martins, Nelson Gonçalves sempre se manteve atento a novos compositores. Nos anos 90, por exemplo, um dos úlitmos discos gravados pelo mestre trazia canções como "Simples Carinho", de Ângela Ro Ro, "Nada por Mim", de Kid Abelha, "Ainda É Cedo", da Legião Urbana, além de "Como uma Onda", de Lulu Santos.

Pra quem quer saber mais da vida desse "papa" da MPB, um dos grandes registros da carreira e da vida, está no "Nelson Gonçalves", contando toda a trajetória, com direção de Elizeu Ewald e protagonizado por Alexandre Borges e Júlia Lemmertz. Outra grande homenagem foi a criação do Bar do Nelson- Bar do Boêmio, no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, inaugurado no ano passado e dirigido por sua filha, Lilian Gonçalves.

Ganhador de um prêmio "Nipper" da RCA (que hoje faz parte do "complexo" Sony BMG), dado aos que permanecem muito tempo na gravadora e pelos números, entre discos e vendas. No mundo, apenas Elvis Presley e Gonçalves receberam a honraria durante a carreira. Nelson Gonçalves deixou, além da saudade, mais de duas mil canções, 183 discos em 78 rpm, 128 álbuns e ganhou 38 discos de ouro e 20 de platina. Pra gente ficou, para sempre, a marca da voz do velho boêmio.

Nenhum comentário: