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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Que mistérios tem Agatha Christie?

http://veja.abril.com.br/blog/meus-livros/livros-da-semana/que-misterios-tem-agatha-christie/

5 Porquinhos

Um Porquinho foi ao Mercado (market Basing)

1 ” ficou em casa

1 ” comeu rosbife

1 ” nada comeu

1 ” chorou, chorou, chorou

(Caderno 35)

Quem gosta de histórias de detetive sabe o quanto é difícil adivinhar o assassino de um livro de Agatha Christie. Entre os 66 romances publicados pela rainha do crime, como é conhecida a escritora britânica morta em 1976, aos 85 anos, há finais impensáveis, como um em que o culpado é o próprio detetive e outro em que o assassino não figura por quase toda a história, sendo, portanto, impossível de apontar. Agora, os leitores têm a oportunidade de uma saborosa desforra. Trata-se do livro Os Diários Secretos de Agatha Christie (editora Leya, 480 páginas, 49,90 reais), em que o curador literário do espólio da escritora, John Curran, revela os planos traçados pela autora em seus cadernos de anotação (alguns trechos estão presentes neste post, em itálico).

Moça – (Nova Zelândia) descobre que sua mãe foi julgada e condenada por assassinato – possivelmente condenada a trabalhos f[orçados] – à prisão perpétua e então morreu

Grande choque – Ela é uma herdeira tio deixou-lhe todo seu dinheiro – fica noiva – vê um brilho em seus olhos – decide nesse momento fazer algo a respeito – sua mãe não é culpada – procura H.P.

Procurando limpar o mínimo possível o caos de anotações de Agatha Christie, Curran transcreveu, comentando e analisando, os 73 cadernos da escritora. Deles, salta uma autora desorganizada, que mistura notas de supermercado com estudos de armas de crimes e argumentos com perfis de personagens que mais tarde podem mudar de nome, mas, principalmente, a fórmula do romance policial que ela herdou e aprofundou, fazendo do gênero um campeão de vendas. Agatha Christie foi traduzida para 45 línguas e, segundo fontes diversas, os exemplares de seus livros vendidos somam 2 bilhões de unidades. Quantia que na lista dos mais vendidos a deixaria atrás somente da Bíblia.

O gênero detetivesco foi inventado por Edgard Allan Poe, que escreveu apenas quatro histórias do tipo antes de perder o interesse por ele. O primeiro autor a ganhar vulto nessa área foi Sir Arthur Conan Doyle, pai do detetive Sherlock Holmes (1887 e 1927) – do qual, aliás, tentou se livrar e não pôde, impedido pelo público, assim como Agatha Christie tentou abandonar, sem sucesso, o belga Hercule Poirot, seu principal investigador ao lado de Miss Marple.

O passado – há 18 anos? 1920-24

Se não era culpada, quem era?

4 (ou 5) outras pessoas na casa (um pouco como os Borden?)

A mãe matou

A. Marido

B. Amante

C. Tio rico ou tutor

D. Outra mulher (ciúmes)

Mas foi com Agatha Christie que o romance de detetive conheceu seus maiores voos. A leitura de seus cadernos pode revelar tanto a fertilidade da sua imaginação, como propõe Curren, quanto o seu apreço ao esquema que adotou e ajudou a refinar, como afirma artigo recente da revista The New Yorker. Um formato existe, sem dúvida – e é tão evidente que, como disse o argentino Jorge Luis Borges, depois de atravessar um livro de detetive outras obras podem parecer amorfas ao leitor. É mais ou menos assim: acontece um crime, a escritora apresenta alguns culpados óbvios, fingindo que está ajudando o leitor a desvendar o mistério, para em seguida mudar o rumo da história, descartando suspeitos e confundindo quem lê. Descoberto pelo detetive em questão, o assassino quase nunca protesta. Prefere dizer que a vítima merecia.

Duas das contribuições de Christie foram a consolidação da excentricidade do detetive – já iniciada por Conan Doyle com Sherlock, que em seu tempo livre deitava no sofá, sobre o efeito de cocaína, e atirava balas contra a parede – e da sua racionalidade. Quando trabalha, o detetive não demonstra emoção. Mas cada pista a que se atém é uma migalha ou uma isca jogada ao leitor, que assim vai se mantendo preso ao livro, acreditando que poderá adivinhar o assassino. Mas já sabemos que, em se tratando de Agatha Christie, será muito difícil.

As 5 pessoas

Miss Williams senhora idosa Caro – devotada a Caroline

Mrs. Sargent – meia-irmã mais velha de Caro – casou-se por dinheiro etc.

Lucy – irmã do marido – violentamente anti-Caro

A. (Ideia) – Caro feriu uma irmã ou irmão quando criança devido a seu temperamento incontrolável – ela acredita que essa irmã ou irmão tenha cometido o crime – por isso acha que está pagando por culpa e fica satisfeita

A irmã ou irmão são no Nº5? – Chora, chora


Mas o que talvez mais salte ao leitor interessado em história da arte e em fenômenos culturais – categoria em que sem dúvida a literatura de Agatha Christie se insere – seja o pano de fundo em que as histórias são escritas (a Segunda Guerra ecoa sobre as linhas da autora, que se torna como que mais impiedosa) e a dimensão de seu consumo. Não apenas a classe média em busca de entretenimento é leitora da rainha do crime e de seus pares. Ela está na estante de letrados exigentes. Daí eruditos como Borges contarem com o estilo em seu lastro intelectual.

É claro que se pode dizer do romance detetivesco que seus personagens são rasos. Mas essa é uma condição do gênero: quanto mais opacos, menos dão pistas ao leitor. No caso de Agatha Christie, vê-se que a regra se comprova. E que funciona.

Maria Carolina Maia

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