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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Romantismo

Sobre bases tonais sólidas, o período romântico é o derradeiro momento da música tonal. As formas livres, lieds, prelúdios, rapsódias, o sinfonismo, o virtuosismo instrumental e os movimentos nacionais incorporam elementos alheios à tonalidade escrita do classicismo e esta lentamente se desfaz.

A liberdade de criar

A Revolução Francesa não mudou apenas o regime político da França. Abalou a Europa inteira e repercutiu em todo o mundo, sob a forma de um surto de liberalismo.

Nos primeiros anos do século XIX, os Direitos do Homem, a democracia e a liberdade de expressão tomavam conta da mentalidade européia, modificando os seus critérios de valor. Por toda parte o espírito religioso passava a um plano de fundo. Por toda parte a arte se desligava das amarras do passado. E pouco a pouco a música deixava os salões, pondo-se ao alcance do povo, apresentada nas casas de concerto.

Os compositores passaram a colorir suas peças com produtos da cultura popular, mas o subjetivismo se impôs como a principal característica da música Romântica. A estilização ganhou um ar de defeito: diminuía a força da expressão individual. Paganini (1782-1840) encarnava bem essa nova ideologia artística, colocando em destaque a sua figura estranhamente feia para enfatizar o seu virtuosismo "diabólico".

Em seus seiscentos lieder, Schubert (1797-1828) expunha a sua natureza terna e delicada. Mendelssohn (1809-1847) contava através da música as suas impressões de viagem, nas sinfonias Italiana e Escocesa.

Na Itália, a ópera aderiu ao Romantismo e, consequentemente, teve que reformar os padrões de interpretação até então vigentes. Agora, o cantor tinha que se dar inteiramente ao público e empolgá-lo também por seu próprio talento teatral. Profundamente influenciados por textos literários, Rossini (1792-1868), Bellini (1801-1835) e Donizetti (1797-1848) tornaram-se os senhores da criação operística romântica, que logo cruzou as fronteiras italianas e se popularizou noutros países.

No entanto, as guerras contra Napoleão parecem ter exacerbado a consciência nacional dos povos europeus, levando-os à busca de formas próprias.

A primeira reação à música lírica da Itália partiu de Carl Maria von Weber (1786-1826), que germanizou a ópera, inspirando-se na época medieval e na mitologia da Alemanha. Seu herdeiro seria Richard Wagner (1813-1883), que, em busca de "uma obra de arte integral", criou o Drama Musical. Este reunia a pintura, a poesia e a arquitetura, além da música. Mas, não contente com um drama isolado, Wagner compôs então uma Tetralogia (conjunto de quatro dramas).

As suas experiências no campo tonal deram à obra wagneriana uma tal originalidade que se criou para os demais compositores românticos um problema: ou seguiam Wagner ou lutavam contra ele.

Na França, Giacomo Meyerbeer (1791-1864) optou pela criação monumental, desenvolvendo a Grande Ópera. Jacques Offenbach (1819-1880) preferiu a leveza e criou a Opereta.

O realismo e a intensa força dramática das óperas do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901) celebrizaram-no em pouco tempo e sua influência estendeu-se a músicos românticos de todo o mundo. Carlos Gomes (1836-1896) foi um deles.

O Nacionalismo Romântico

Durante muito tempo a Europa vivera sob a influência da música da Itália, que só foi atenuada pelo barroco de Haendel e Bach.

A ópera romântica de Weber e o drama musical de Wagner eliminaram esse monopólio italiano. Mas em compensação criou-se outro na Alemanha, pelo fato de traçar as linhas mestras que orientavam o Romantismo.

Em Paris, onde se refugiara da ameaça do czarismo russo, o polonês Frédéric Chopin (1810-l849) ganhou fama tocando ao piano as mazurcas e polonaises que compunha, numa evocação dos ritmos típicos de sua terra. Por volta da mesma época, um prodigioso pianista húngaro chamado Franz Liszt (1811-1886) percorria o continente encantando as platéias com a agilidade rítmica das suas Rapsódias Húngaras. Inspirado pela brilhante arte orquestral do seu contemporâneo Hector Berlioz (1803-1869), introduziu o Poema Sinfônico, cujas liberdades de forma o levaram a um dos primeiros planos no panorama romântico.

Na Rússia, Mikhail Glinka (1804-1857) liderou um movimento nacionalista que originou o famoso Grupo dos Cinco - Rimsky-Korsakov (1844-1908), Cesar Cui (1835-1918), Balakirev 11837-1910), Borodin (1833-1887) e Moussorgsky (1839-1881).

Afastando-se da música ocidental, esses imaginosos autodidatas buscaram deixar de lado o sistema tonal tradicional para cultuar os exóticos sons modais da música sacra eslava e do folclore russo.

Pyotr Ilich Tchaikowsky (1840-1893) também buscou dar à música da Rússia uma expressão autêntica. Mas fez o contrário dos "Cinco", assimilando da música ocidental de Mozart, Berlioz, Liszt e Délibes muitos elementos que fundiu com os do patrimônio cultural russo nas suas composições.

A Checoslováquia teve dois representantes notáveis do romantismo nacionalista: Bedrich Smetana (1824-1884) e Antón Dvorák (1841-1904).

Na Noruega, foi durante esse período que surgiu o maior dos seus compositores: Edvard Grieg (1843-1907). O mesmo ocorreu na Finlândia com Jan Sibelius (1865-1957), considerado o expoente máximo da música naquele país. O exotismo e a riqueza dessa música de raízes folclóricas foram sem dúvida fatores importantes para a elevação do Romantismo ao seu nível mais alto.

A reação de Johannes Brahms (1833-1897) foi certamente um fator que ajudou a encaminhar a música num sentido diferente. Brahms fora romântico quando jovem, mas a obra de Bach mudou-lhe as idéias, tornando-o um antiwagneriano ferrenho, na maturidade.

Outro notável compostor do Romantismo foi o belga César Franck (1822-1890), criador da forma cíclica, pela qual constrói uma obra inteira, baseando-se num único tema. Vincent D'lndy (1851-1931), Chabrier (1841-1894) e Fauré (1845-l924) fizeram evoluir as concepções do mestre em obras marcadas pela irregularidade intencional de ritmo e harmonia, as quais já preludiavam o fim do Romantismo.

Lied

Curtas canções para piano e voz e facilidade melódica (o novo lirismo), para melhor exprimir os sentimentos mais íntimos, compõem as características principais dos lieds (canção, em alemão). Esta forma é desenvolvida por Franz Schubert (1797-1828), Robert Schumann (1810-1856) e mais tarde por Johannes Brahms (1833-1897). Inicialmente os textos são retirados da poesia romântica alemã de Goethe (1749-1832) e Heine (1799-1856). Também são características da época das formas livres como os prelúdios, rapsódias, noturnos, estudos, improvisos etc., presentes na obra de Frederic Chopin (1810-1849) e Franz Liszt. Essas peças são geralmente para piano solo e realçam o virtuosismo instrumental, dividindo a importância do concerto entre a obra e a presença do intérprete. Tal tradição já vinha do classicismo, em que diversos compositores eram instrumentalistas virtuosos, como é Niccoló Paganini (1782-1840).

Sinfonismo

Compreende obras para grandes orquestras e privilegia o virtuosismo. Destaca-se a obra de Johannes Brahms, com suas quatro sinfonias, dos franceses César Franc (1822-1890) e Hector Berlioz (1803-1869), que revoluciona a concepção da orquestra clássica ao acrescentar mais instrumentos em sua Sinfonia fantástica, op. 14, de 1830, reformulando os modos de instrumentação vigentes em sua época.

Extremos da tonalidade

A consolidação do romantismo liga-se ao poema sinfônico de Liszt e à ópera de Wagner. Com a obra desses dois compositores ocorre a revolução harmônica. A música deixa de repousar sobre uma só escala, em modulações tradicionais, e torna-se livre. A cada momento o ouvinte está dentro de uma nova escala. A tensão harmônica é tamanha que a velha harmonia entra em colapso. Tudo para atingir o máximo de expressividade. Nesse movimento, Liszt retorna elementos da música modal, trazidos das melodias populares e do modo de cantar dos povos da Hungria.

Verismo

A utilização de temática cotidiana, na qual os personagens não são heróis mitológicos, mas pessoas comuns, constitui o verismo termo originado da palavra vero (verdade em italiano), que corresponde na ópera à literatura naturalista do francês Émile Zola. Pode ser notado nas óperas dos italianos Giuseppi Verdi (1813-1901) e Giacomo Puccini (1858-1924) e do francês Georges Bizet (1838-1875). São óperas representativas desse período La traviata, de Verdi, La bohème, de Puccini, e Cármen, de Bizet.

Romantismo tardio

Após a virada do século, as idéias de Wagner perduram em obras de compositores-regentes, voltados principalmente para a escrita orquestral, como Richard Strauss (1864-1949) e Gustav Mahler (1860-1911). Esses compositores introduzem as grandes massas orquestrais, corais chegando a mais mil pessoas (Sinfonia nº 8, de Mahler), e sinfonias de longa duração, compreendo por volta de uma centena de temas (Sinfonia alpinas, de Strauss). Inovam ainda mais com o uso de recursos instrumentais que enfatizam o caráter programático da música (os instrumentos de metal imitando carneiros no Don Quixote de Strauss; o som dos sinos das igrejas na primeira Sinfonia de Mahler).

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