Num mundo cheio de teorias da conspiração, o universo da cultura pop também tem as suas. E o rock é um segmento rico nelas. Para muitos fãs mundo afora, Elvis não morreu e é um septuagenário milionário vivendo anonimamente em algum paraíso tropical. Outros acreditam que o ator Josh Saviano, o Paul Pfeiffer de “Anos Incríveis”, cresceu e virou o pop star Marilyn Manson. E quase todos os roqueiros crêem que Keith Richards, o guitarrista dos Rolling Stones, realmente trocou todo o sangue do seu corpo em algum momento dos anos 70.
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Elvis Presley desfruta de sua riqueza vivendo
disfarçado em alguma ilha tropical
A mitologia pop inclui uma diversidade de lendas urbanas. Uma delas diz que a letra de “In the Air Tonight”, sucesso de Phil Collins, revela que o artista testemunhou o afogamento de um amigo, quando a interpretação mais sustentável é que a canção trata de um relacionamento amoroso fracassado. Outra explora a obsessão que Michael Jackson tem por plásticas e coisas bizarras. Segundo ela, o rei do pop tentou comprar os restos mortais de Joseph Merrick, o “Homem Elefante”, um portador de neurofibromatose múltipla no século 19, doença que o teria deformado a ponto dele não poder se olhar no espelho. Já uma das mais recentes diz que o guitarrista Keith Richards, dos Rolling Stones, teria cheirado as cinzas do próprio pai após sua cremação.
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Uma das mais antigas lendas da música popular diz
que Robert Johnson fez um pacto com o Diabo para se
tornar o melhor bluesman de todos os tempos
O quanto há de verdade ou não nessas histórias é sempre difícil de verificar. Muitas vezes os próprios envolvidos ajudam a reforçá-las como uma “estratégia” promocional. As lendas do mundo pop ganharam a atenção da mídia ao longo das décadas. Da revista norte-americana Rolling Stone ao jornal britânico The Guardian, saem periodicamente listas com as histórias mais bizarras do rock.
O HowStuffWorks decidiu então pesquisar quais são as dez melhores histórias dessa mitologia roqueira. Confira nas páginas a seguir o resultado.
Elvis não morreu
Nos dez anos seguintes a sua morte, Elvis Presley foi visto em pelo menos duas dezenas de milhares de ocasiões pelo mundo. E isso são somente os testemunhos que chegaram ao FBI, a polícia federal norte-americana. Para muitos fãs, o Rei do Rock estava cansado dos infortúnios da fama e teria simulado a própria morte para desfrutar de sua riqueza anonimamente em algum local paradisíaco.Mas, será que ele tramaria o seu desaparecimento deste planeta com um ataque do coração no banheiro de Graceland? Não parece ser de seu feitio. Para alguém tão emocional e vaidoso como o Rei do Rock, seria mais cabível planejar uma morte glamourosa e comovente. Como num acidente em que estivesse pilotando um de seus carrões ou de uma parada cardíaca durante um show, ao cantar algum de seus sucessos românticos, como “Love Me Tender” ou “Suspicious Mind”.
Foto Sílvio Anaz
Se Elvis não morreu, quem estaria enterrado em Graceland?
Apesar disso, não pararam de surgir teorias bizarras que sustentam que Elvis está vivo. Uma delas diz que o Rei do Rock era um agente disfarçado da agência anti-drogas americana e que descoberto pela Máfia teve de simular a própria morte. Para sustentar essas versões, até detalhes do funeral são considerados. Segundo alguns dos presentes, o caixão pesava em torno de 400 quilos e estranhamente tornava o ar em torno dele mais frio. Na opinião dos teóricos da conspiração, no entanto, isso significa que no caixão havia um boneco de cera imitando o Rei, conservado por um sistema de refrigeração, que tornava o caixão tão pesado e o ar resfriado. Daí também a razão da cerimônia ter sido tão rápida.
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O Rei do Rock continua bem vivo,
pelo menos sob o ponto de vista artístico e comercial
No imaginário dos fãs e na comercialização de sua imagem, Elvis, de fato, não morreu. As vendagens de produtos associados a ele (de CDs a biografias) e a sua onipresença na cultura pop mostram que, seja numa outra dimensão ou em algum paraíso tropical, Elvis ainda está muito vivo por aqui.
Paul Pfeiffer virou Marilyn Manson
Em “Anos Incríveis”, ele era o melhor amigo de Kevin Arnold, o protagonista da série. Tímido e muito inteligente, Paul Pfeiffer tinha tudo para crescer e virar um nerd. Mas, na vida real, Josh Saviano, o ator que o interpretava, se transformou no polêmico astro Marilyn Manson. Se você acreditou nessa história, saiba que ela foi a primeira das mais famosas lendas urbanas do rock a se propagar via Internet.Lenda que ganhou proporções e obrigou Josh Saviano a desmenti-la. Já Marilyn Manson afirmou que, se tivesse atuado em “Anos Incríveis”, não teria sido Paul Pfeiffer e sim a Winnie, a namorada chatinha de Kevin. Apesar disso, alguns fãs ainda olham desconfiados para os desmentidos e acham que há muitas semelhanças entre o soturno pop star e o ator na pele do estudioso Paul.
Paul Pfeiffer (à esquerda) e seu amigo
Kevin Arnold no seriado “Anos Incríveis
Mas acreditem, definitivamente Marilyn Manson não é a versão adulta de Josh Saviano. Manson na verdade nasceu como Brian Hugh Warner, no Ohio (EUA), em 1969. Na época que “Anos Incríveis” chegou à TV, ele já tinha 19 anos de idade e estava prestes a iniciar sua carreira musical. Influenciado pelo som e pela atitude de Ozzy Osbourne, Alice Cooper e do metal industrial, ele incorporou uma série de elementos provocadores em suas canções e performances, como ocultismo, violência, sadomasoquismo e visual andrógino.
Premeditadamente polêmico, Marilyn Manson (cujo nome artístico vem da junção do da atriz Marilyn Monroe com o do psicopata Charles Manson) está também no centro de outras lendas urbanas do rock. Uma delas diz que ele teria tirado uma das costelas para poder fazer sexo oral nele próprio. Outra que ele teria feito implante de seios e substituído um dos seus olhos por um testículo.
Em suas afrontas à censura e aos padrões morais, Manson gosta de alimentar esses tipos de histórias e considera irrelevante confirmá-las ou desmenti-las.
Paul McCartney morreu nos anos 60
Numa noite chuvosa em 1966, Paul McCartney dirigia seu Aston Martin quando sofreu um acidente automobilístico fatal. Ele havia acabado de sair de uma sessão de gravação dos Beatles, no famoso estúdio de Abbey Road. No auge do sucesso da banda, John, George e Ringo não pensaram duas vezes em abafar o acidente e substituir Paul por um sósia.
Até 1970, quando os Beatles acabaram, o impostor fez parte do quarteto de Liverpool. Mas em 69 os rumores sobre a morte de Paul ganharam força graças a uma série de “pistas” encontradas nas canções do grupo. A morte de Paul McCartney é provavelmente a primeira grande lenda urbana do rock.
As pistas segundo os que acreditam nessa teoria da conspiração estão espalhadas na obra dos Beatles pós-1966. Na bela “Strawberry Fields” uma voz abafada de fundo aparentemente diz “I buried Paul” (“Eu enterrei Paul”). Na capa do álbum “Abbey Road”, em que os quatro aparecem atravessando a famosa rua, Paul é o único descalço, porque seria o morto. John que está todo de branco simbolizaria um anjo, enquanto Ringo de preto seria o padre e George de jeans, o coveiro. Na canção “Glass Onion”, John Lennon canta que Paul era uma morsa. O animal foi o símbolo da morte em culturas antigas, como a romana.
O fim dos Beatles mostrou que Paul está bem vivo. Prova disso é que, desde os anos 70, ele construiu a mais bem-sucedida carreira do ponto de vista comercial dentre os ex-Beatles. A reverência de fãs e da crítica musical pelo seu talento faz de Paul McCartney uma lenda viva do rock.
O sangue bom de Keith Richards
Por conta de seu histórico de abuso de drogas, entre elas heroína, o guitarrista dos Rolling Stones já foi alvo de prisões e tratamentos. O mais lendário desses fatos foi a transfusão completa de sangue que Keith Richards teria feito antes de uma excursão européia dos Rolling Stones na primeira metade dos anos 70.Na verdade, o que muitos ainda acreditam ter sido uma completa troca de sangue no corpo do guitarrista, pode não ter passado de uma hemodiálise feita em uma clínica na Suiça. Victor Brokis, no livro “Keith Richards: A Biography”, afirma que o roqueiro passou em 1973 por um processo de filtragem de seu sangue, uma hemodiálise, com o objetivo de remover as “impurezas” deixadas pelo uso abusivo de drogas e deixá-lo “limpo” para a turnê européia da banda.
Mas a lenda não ganhou as proporções que tem à toa. Na época, cansado dos rumores e da insistência dos jornalistas sobre o episódio, Richards confirmou que tinha feito uma completa transfusão sangüínea e levou alguns anos para desmenti-la.
Essa, no entanto, não é a única lenda urbana envolvendo o guitarrista. Em 2007, ele voltou às manchetes por ter supostamente cheirado as cinzas do próprio pai, morto e cremado em 2002. Primeiro, Richards declarou que tinha misturado as cinzas com cocaína e cheirado. Dias depois, houve um desmentido de sua empresária. Mas numa entrevista à revista britânica Mojo, o guitarrista voltou a confirmar a história, só esclarecendo que havia cheirado apenas as cinzas, como cocaína e não “com cocaína”. Mais uma polêmica para alimentar a aura transgressora dos Rolling Stones.
A língua bovina de Gene Simmons
Ser um rock star já é motivo suficiente para fazer sucesso entre as mulheres. Mas, Gene Simmons, baixista do Kiss, acredita que sua super língua foi tão importante para seu êxito com as garotas quanto a sua condição de astro pop. Uma língua daquele tamanho é tão impressionante que merecia uma lenda urbana do rock. E ela surgiu.Entre os fãs do Kiss, a descomunal língua do baixista fez com que alguns a imaginassem como resultado de um implante cirúrgico de uma língua de uma vaca. A história se espalhou e tornou-se uma das mais bizarras do universo da cultura pop.
Por mais absurda que pareça, a língua de Gene Simmons é natural e ele não precisou recorrer a nenhum complemento vindo de um bovino para tê-la daquele tamanho. Além de sua marca registrada, a super língua de Simmons tem sido uma das atrações nas apresentações do Kiss.
O baixista foi um dos fundadores da banda, que surgiu nos anos 70 com um rock pesado e teatral. Em 1977, a Marvel Comics lançou um gibi sobre o Kiss e, como não poderia deixar de ser, na tinta vermelha usada na impressão foi divulgado que havia sangue dos quatro integrantes do grupo. No mundo do rock, não há oportunidade a ser desperdiçada para se criar uma boa lenda.
Na cama com Mick Jagger e David Bowie
Angela Bowie teria inspirado uma das mais belas canções dos Rolling Stones. A esposa de David Bowie, entre 1970 e 1980, seria o motivo para Mick Jagger e Keith Richards comporem “Angie”, uma canção sobre um amor que não deu certo e que se tornou um dos grandes sucessos dos Stones. Mas havia outras potenciais fontes de inspiração. Uma delas, a atriz Anita Pallenberg, que se relacionou com vários Stones: Brian Jones, Mick Jagger e Keith Richards. A fonte de inspiração de “Angie” poderia até mesmo ser Angela Richards, a fila de Keith com Anita.Seja ou não a musa de “Angie”, o fato é que Angela Bowie disse ter testemunhado uma das mais escandalosas lendas do rock. Segundo ela, ao voltar de uma viagem, enquanto ainda estava casada com David Bowie, teria o encontrado na cama com Mick Jagger. Mas Angela fez questão de afirmar que não os viu tendo uma relação sexual. Apesar de não mencionar quando o fato ocorreu, é provável que tenha sido nos anos em que o glam rock estava no auge, fase em que Bowie explorou seu visual andrógino e Jagger já era conhecido por seu apetite sexual.
No livro “Backstage Passes”, escrito por Angela e lançado em 1993, ela afirma que os dois podem ter dormido na mesma cama após uma noite de bebedeiras e uso de drogas. Mas a ex-esposa de Bowie destaca que quando os encontrou naquela situação teve certeza de que eles haviam transado. Apesar de, nas suas palavras, “seus olhos não terem comprovado o que ela sentiu no coração”.
Verdade ou não, a revelação da ex-esposa de Bowie trouxe à tona novas especulações sobre quem seria a musa inspiradora de “Angie”. Desta vez, até o próprio David Bowie foi incluído na lista. Mas o maior feito da declaração foi colocar um possível caso homossexual entre os dois pop stars na galeria de lendas do rock, apesar de todos os famosos relacionamentos heterossexuais que ambos têm em suas trajetórias, o que inclui as ex-modelos Bianca Jagger, Jerry Hall, Luciana Gimenez e Iman.
A magia negra do Led Zeppelin
O lançamento do quarto álbum do Led Zeppelin em 1971 confirmaria o que já se desconfiava. Os quatro integrantes do grupo, e sobretudo o guitarrista Jimmy Page, seriam adeptos e praticantes de magia negra e rituais satânicos. As provas estavam nos quatro símbolos, um para cada membro, escritos em sigil, linguagem medieval criada com propósitos mágicos, que aparecem no encarte do álbum, além das letras místicas carregadas de metáforas sobre os ensinamentos do bruxo britânico Aleister Crowley.
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Capa do álbum Led Zeppelin IV:
nele estariam as provas das ligações satânicas do grupo
A lenda sobre as ligações do Led Zeppelin com ocultismo ganharia ao longo dos anos novos elementos, como a compra do castelo que pertenceu a Crowley pelo guitarrista Jimmy Page até insinuações de que a morte do baterista John Bonham teria ocorrido em algum ritual satânico com os membros da banda. As desconfianças renderam até um livro sobre o envolvimento do grupo com bruxaria: “Fallen Angel”, escrito por Thomas Friend.
O assumido interesse de Jimmy Page por ocultismo e pelos ensinamentos de Aleister Crowley é a principal fonte das lendas que surgem em torno do grupo. Além disso, há a admiração do vocalista Robert Plant por obras literárias mitológicas como “O Senhor dos Anéis”, de Tolkien, e seu interesse por fenômenos psíquicos.
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O guitarrista Jimmy Page, ao centro, na capa da revista britânica Mojo; à esquerda, o vocalista Robert Plant, e à direita, o baixista John Paul Jones
Naturalmente, essas influências místicas refletiram nas canções compostas pelo Led Zeppelin e alimentaram as associações entre os acontecimentos mais sombrios relacionados ao grupo e o ocultismo.
Excetuando a compra da antiga morada do bruxo britânico por Jimmy Page, o fato que comprovadamente mais aproxima o grupo da magia negra é a impressionante música que o Led Zeppelin conseguiu produzir em pouco mais de uma década de existência.
O caso de Serguei com Janis Joplin
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Janis Joplin foi um dos ícones dos anos 60
Serguei Bustamante é um dos sobreviventes da geração da psicodelia brasileira dos anos 60 e 70. O cantor não chegou a ser um popular rock star, mas tem tantas aventuras para contar sobre a cena roqueira brasileira que virou uma lenda viva do rock nacional. E entre suas histórias incríveis está seu encontro com Janis Joplin, um dos ícones da contracultura hippie da década de 60.Segundo Serguei, em declaração à Revista Trip em agosto de 2000, ele teria vivido um mês com a cantora norte-americana em San Francisco, após conhecê-la em Long Island (EUA), em 1968. Nessa convivência teria assistido aos relacionamentos de Janis com Jimi Hendrix e participado de festas freqüentadas por ídolos como Jim Morrison, do The Doors.
Em 1970, na visita da cantora ao Brasil, ele a teria reencontrado no Rio de Janeiro e, após levá-la para dar uma “canja” em uma espelunca carioca, teria feito amor com Janis e com o namorado dela na praia até de manhã.
Parte da história do reencontro de Serguei com Janis no Rio não bate com o depoimento dado à mesma Trip pelo fotógrafo Rick Ferreira, responsável por hospedar a cantora em sua estadia carioca. Mas, em uma época tão louca, é compreensível que muito do que aconteceu não seja lembrado fielmente.
De qualquer forma, o relacionamento do brasileiro Serguei com uma das mais importantes artistas do rock de todos os tempos merece estar na galeria das melhores lendas urbanas da cultura pop.
O misterioso Chinese Democracy, do Guns N’ Roses
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Box do Guns N’ Roses: da formação
que iniciou a gravação de
“Chinese Democracy” só resta
o vocalista Axl Rose (ao centro)
Menos pela qualidade artística e mais para saber se ele realmente existia, o disco “Chinese Democracy” do Guns N’ Roses foi um dos mais aguardados da história do rock. Ele é o sexto álbum de estúdio do grupo e teria começado a ser gravado em 1994.Em 2007, faixas demo que fariam parte do disco vazaram para a Internet e em 2008 sites como Amazon.com chegaram a anunciar a pré-venda do álbum. Fatos que começaram a sinalizar que ele realmente existia. Mas a sua materialização só aconteceu no final de 2008.
Da formação do grupo quando o álbum teria começado a ser gravado só restou o vocalista Axl Rose. No fim, o tão aguardado disco do Guns N’ Roses não carrega nem de perto a mesma aura de “Smile”, mítico álbum de Brian Wilson, que levou quase quatro décadas para se tornar realidade (ele começou a ser produzido em 1966, ainda com os Beach Boys, e foi lançado em 2004).
Por essas e outras, talvez seria melhor que “Chinese Democracy” continuasse a fazer parte das lendas do rock e não se transformasse em apenas mais um disco com qualidades limitadas de um grupo que pouco lembra seus melhores momentos.
Fonte HSW
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