O maestro John Neschling anunciou ontem sua saída da direção artística da Companhia Brasileira de Ópera, criada por ele há um ano com o objetivo de percorrer o País com produções itinerantes. Com o apoio do Ministério da Cultura, que investiu R$ 5 milhões no projeto, a companhia apresentou-se ao longo de 2010 em dez Estados do País.
Segundo o maestro, a "burocracia estatal" não permitiu a obtenção dos resultados desejados. "Da forma como funcionou nessa primeira fase, a companhia não terá condições de sobreviver dentro dos meus parâmetros de qualidade e eficiência", diz o maestro, que afirma estar de mudança para a Europa, "para onde vou só com passagem de ida". Em comunicado postado em seu blog, o Semibreves, Neschling afirma que encerra ciclo de atuação no País, iniciado com sua chegada à Sinfônica do Estado, em 1997 - ele foi demitido do posto de diretor do grupo em janeiro de 2009.
O futuro da companhia era incerto desde a saída de Juca Ferreira, grande apoiador do projeto, do Ministério da Cultura. "Imaginei que após o primeiro ano de atividades a continuidade do projeto pudesse ser assegurada pela criação de uma estrutura estatal estável. Mas não há indicação de que o projeto seja uma das prioridades do novo governo." Não há ainda posição oficial do ministério sobre uma segunda temporada.
Sobre a volta à Europa, Neschling fala em descompasso entre a realidade econômica do País e a preocupação com a cultura. "Admiro a coragem de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mas por que um país com essas pretensões é incapaz de ter um teatro de ópera decente? Por que continuamos a ignorar a cultura como um dos pilares do desenvolvimento econômico?", diz.
Fonte: Estadão - 05 de Janeiro de 2011
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