Um arquiteto conseguirá salvar a música clássica? Talvez tenha sido esta a intenção de Michael Tilson Thomas, diretor artístico da New World Simphony (NWS), quando contratou Frank Gehry para projetar uma nova sede para a orquestra. Assim como outras instituições de música clássica, a NWS vem lutando para atrair um público mais jovem. E Gehry, de 81 anos, é reconhecido como um arquiteto capaz de compreender o imaginário popular.
Juntos, eles conceberam um local, inaugurado em Miami Beach na última terça-feira, onde as ideias ao gosto do público extravasam, às vezes chegando ao delírio. Confinados numa caixa de gesso, estúdios de ensaio que parecem engradados empilhados e uma sala de concertos com 750 lugares compõem a obra, que tem por objetivo romper a distância emocional entre artistas e público. O estilo mais anárquico do novo centro é um retorno do arquiteto a projetos que fizeram dele a figura revolucionária da arquitetura americana nas décadas de 80 e 90.
O espaço, que dá para o parque SoundScape, é o ponto culminante de um trabalho de 15 anos para revitalizar uma região desvalorizada de Miami Beach. Visto à distância, o novo centro de música, no formato de uma gigantesca caixa de sapatos, parece um edifício de gesso branco anônimo, que pode ser visto de toda Miami.
Uma parede de vidro cobre de cima abaixo a frente do prédio, expondo todo o saguão. Dentro, as salas de ensaio são posicionadas umas sobre as outras. A primeira vez que vi esse espaço - à noite, com as salas iluminadas por trás - pensei no saguão da Opéra de Paris, projetada no século 19 por Charles Garnier.
Mas, enquanto a criação de Garnier refletia o espírito exibicionista da burguesia emergente, a visão de Gehry é mais democrática. As pessoas que não têm dinheiro para pagar ingresso poderão trazer cadeiras dobráveis e sentar-se no parque para assistir aos espetáculos projetados do lado do prédio. Quando não há apresentações, os visitantes podem ver de perto as salas de ensaio.
O público pagante tem o privilégio de observar os músicos se preparando para entrar no palco. A ideia de Michael Thomas é aproximá-los das pessoas e, com isso, criar uma experiência musical mais acessível. O mesmo acontece na sala de concertos - um dos melhores espaços projetados por Frank Gehry em anos - com os assentos instalados em torno do palco semicircular. Pequenos balcões foram colocados em vários pontos da sala para que os músicos possam se misturar ao público - uma amostra da crença de Gehry que a música, como outros atos criativos, é mais do que uma questão de estética.
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