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sábado, 22 de janeiro de 2011

Lohengrin

Ópera Alemã do Século XIX

Ópera em três atos
Libreto alemão de Richard Wagner (baseado numa lenda da Idade Média)
estréia em 1850 em Weimar

Origem e Acolhida - Franz Liszt foi quem dirigiu as primeiras apresentações de Lohengrin. Criticada a princípio como uma obra "muito barulhenta e sem gosto", essa ópera haveria de conhecer posteriormente um grande sucesso. Em Paris, ela desencadeou uma manifestação antialemã.

Resumo - (conto legendário e mísitico) Século X, no Brabante (Bélgica).

Ato I - Elsa de Brabante (sop), filha do falecido duque de Brabante, é acusada por Frederico de Telramund (bar), conde de Brabante, de ter matado seu irmão Gottfried de Brabante, para suceder a seu pai. Instigado por sua mulher Ortrud, Frederico reivindica o trono. Pressionada a axplicar-se, Elsa contenta-se em evocar um cavaleiro que ela viu em sonho e que o Céu lhe enviará para defendê-la Frederico lança o desafio, provocando o cavalheiro imaginário a um duelo. O milagre acontece: o cavaleiro (t), resplandecente em sua armadura de prata, aparece numa canoa puxada por um cisne. Ele veio bater-se por Elsa. Em troca, ela deverá ser sua mulher e jamais questioná-lo sobre sua origem. O cavaleiro derrota facilmente Frederico e poupa-lhe a vida.

Ato II - Frederico acusa Ortrud de sede pelo poder e de ser a causa de sua desonra. Mas Ortrud trama sua vingança. valendo-se da magia negra, convencerá Elsa a colocar a questão proibida ao cavaleiro: quem ele é? Ortrud encontra Elsa, que se prepara para o casamento. Após implorar seu perdão por Frederico e ela mesma, previne-a perfidamente contra o cavaleiro. No dia seguinte, Ortrud primeiro e depois Frederico interrompem a cerimônia nupcial para intimar o cavaleiro a revelar sua identidade. O plano de Ortrud está em via de dar certo: o cavaleiro aceita, com a única condição de que seja sua mulher que lhe pergunte.

Ato III - Os recém-casados encontram-se a sós após a cerimônia e celebram seu amor. Elsa deseja conhecer o nome do seu esposo. Pressentindo o funesto desenlace, este adia a resposta. Aparece então Frederico e tenta eliminar o cavaleiro, que reage matando-o. Sob o golpe da emoção, e já que sua mulher rompeu o juramento, ele revela seu segredo: chama-se Lohengrin, vem do castelo de Montsalvat, onde está guardado o Graal. O cisne reaparece, pois, agora que os homens conhecem seu segredo, ele deve partir novamente. Elsa tenta em vão retê-lo. Uma pomba desce então e toma o lugar do cisne, que se transforma em... Gottfried, o irmão de Elsa que fora vítima de malefício de Ortrud. Elsa cai desfalecida nos braços de seu irmão, enquanto Lohengrin se afasta.

Análise - (uma Grande Ópera visionária) Lohengrin é uma epopéia grandiosa, na qual o Mito vem atravessar a História, como o cisne que desliza sobre o rio: a aventura desse anjo de figura humana que é Lohegrin tem por cenário a Alemanha medieval, cuja solene rudeza é mostrada por Wagner. A ação, que põe em conflito a paixão do poder e a paixão do amor, é claramente definida; as personagens são da nobreza; os cantos ainda têm muito a ver com a tradição lírica franco-italiana, e as partes corais, investidas de uma função dramática, celebram com força de trombetas os grandes acontecimentos (sobretudo o célebre coro nupcial do terceiro ato). Por todos esses aspectos, Lohengrin vincula-se à convenção da Grande Ópera posta em moda por Meyerbeer.

Essa obra, juntamente com Parsifal, é uma das mais líricas que Wagner compôs: os cantos, muito melódicos, vêm arejar e iluminar um drama às vezes abafado pela pompa da Grande Ópera. Assim como em Tannhäuser, alguns trechos podem ainda ser isolados, mas trata-se mais de recitativos que de árias: os mais célebres são o "sonho de Elsa" no primeiro ato, que tem a mesma suavidade que a balada de Senta em O Navio Fantasma, e o subline "recitativo do Graal" no terceiro ato, no qual Lohengrin revela sua identidade. A doçura e o êxtase caracterizam também o magnífico duo de amor no terceiro ato, em que vemos Elsa passar do terno abandono à curiosidade ciumenta. Reencontramos a oposição vocal clássica entre o casal de heróis (tenor-soprano) e o casal de vilões (barítono-mezzo). A personagem de Ortrud tem, no entanto, a riqueza dramática das grandes criações wagnerianas, e sua cor vocal prefigura ade Brunilde em O Anel do Nibelungo.

Ainda que essa ópera siga dominada pelas vozes Wagner continua a afirmar sua concepção sinfônica da ópera; a orquestra exprime o âmago das criaturas, graças a motivos característicos que, sem ter ainda o estatuto de leitmotive, retornam de forma recorrente. O tema sagrado do Graal, onipresente desde a esplêndida abertura até a extraordinária conclusão, faz reinar uma atmosfera de pureza quase irreal: após os suspiros etéreos das flautas e das cordas, um coro de violinos eleva-se causando arrepios. O tema de Elsa, dócil e majestoso, comove por sua suavidade elegíaca. Enfim, o tema do "Mistério do nome" sombrio e ameaçador, opõe-se ao tema luminoso do Graal.

Em toda a ópera, a orquestra, rica mas sutil, obedece a uma função dramática: os instrumentos de metal emprestam seu brilho pesado aos reis e aos coros guerreiros, o suspiro dos de madeira acompanha o canto frágil de Elsa; e, enquanto para a pérfida Ortrud soam a trompa e o clarinete, o trêmulo místico dos violinos designa Lohengrin.

Com efeito, à bestialidade pagã encarnada pela feiticeira Ortrud opõe-se a santidade do mago Lohengrin, vindo para tirar Brabante do obscurantismo e restaurar a legitimidade religiosa e política. Portador da mensagem cristã, o cavaleiro do Graal anuncia o herói da última ópera de Wagner, Parsifal. Esse héroi messiânico, cujo mistério permanece em suspenso (ele virá? quem é ele?), pertence também à mesma família espiritual que o holandês errante e Tannhäuser: como eles, representa o drama romântico da solidão do artista e do homem. Mas aqui a mulher é sacrificada ao homem, o amor à salvação. Wagner inspira-se no mito antifo de Zeus e Semele: o amor por uma mortal permite ao deus aproximar-se da humanidade, mas, sendo o amor da mulher desejo de conhecimento, de apropriação, de destruição, o deus se vê obrigado, para permanecer deus, a matar a mulher que ele ama. Elsa, heroína mediadora, deve morrer para que Lohengrin preserve sua identidade, sua verdade de visionário. A brancura ofuscante do Graal, simbolizada eplo cisne e pela pomba, deve se contemplada em silêncio: o espírito se fez carne para que a carne volte a ser espírito.


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