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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Os Mestres Cantores

Ópera Alemã do Século XIX

"Ação" em três atos
Título original: Die Meistersinger on Nürnberg (Os Mestres Cantores de Nuremberg)
Lbreto alemão de Ricahrd Wagner
estréia em 1868 em em Munique

Origem a Acolhida: Wagner teve a idéia desta ópera enquanto compunha Lohengrin, mas só a realizou doze anos mais tarde. Para ele, Os Mestres Cantores representava o equivalente do "drama satírico" que, nas representações teatrais da Grécia antiga, relaxava os espectadores após a trilogia trágica. Em sua estréia, essa ópera foi dirigida por Hans von Bülow (de quem Wagner desposou mais tarde a mulher, Cosima). A crítica julgou a obra "feia e amusical", mas o grande público fez dela um sucesso. Hoje, Os Mestres Cantores tornou-se uma espécie de ópera nacional bávara.

Resumo - (comédia histórica)
Século XVI, Nuremberg

Ato I - O cavalheiro Walther von Stolzing (tenor) esta apaixonado por Eva (soprano), a filha do ourives Pogner. Ela lhe revala que irá casar com o vencedor do concurso de canto organizado pela confraria dos Mestres Cantores. Walther decide então apresentar-se nesse concurso. Mas deve primeiro ser admitido entre os Mestres Cantores e cantar diante deles segundo regras rígidas. Ele fracassa: seu canto é julgado demasiado original. O escrivão Beckmesser (baritono), que também quer casar com Eva, regozija-se.

Ato II - A composição de Walther causou forte impressão no velho Sachs, sapateiro e membro de confraria. Compreendendo que Eva ama Walther, ele decide ajudar os dois. Na mesma noite, impede Beckmesser de fazer uma serenata a Eva, batendo estrepitosamente com seu martelo de sapateiro. O barulho desperta os habitantes e cria-se um tumulto geral. Aproveitando-se da confusão, Walther e Eva pensam em fugir, mas seu projeto é contrariado por Sachs, que toma Walther sob sua proteção.

Ato III - No dia seguinte, Walther conta a Sachs um sonho maravilhoso que teve: eis aí o assunto do drama que Walther deve compor para se apresentar no concurso! Walther põe-se a trabalhar, pouco a pouco, Sachs vai lhe ensinando as regras. Beckmesser descobre, na casa do sapateiro, o magnífico poema de Walther, que ele acredita ser de Sachs, e o surrupia. Chega o momento do concurso. Beckmesser começa a cantar, mas, como nada compreendeu do texto de Walther, cobre-se de ridículo. Quanto a Walther, ele entoa um canto de tamanha beleza que suscita o aplauso geral. Declarado vencedor, é aceito na confraria. Sachs, acompanhado em coro pela multidão, presta uma solene homenagem à Arte germânica e a seus Mestres.

Análise - (uma comédia popular à glória da arte e do povo germânico) Os Mestres Cantores é uma ópera à parte na obra de Wagner. Inspirada numa realidade histórica, essa comédia realista pouco se assemelha às epopéias trágicomíticas caras ao compositor: inscreve-se antes na tradição da ópera cômica alemã, o singspiel. A ação se passa no coração da Alemanha eterna, na cidade de Nuremberg, onde teve lugar, no século dezesseis, uma grande festa popular e artística: o torneio dos Mestres Cantores. Hans Sachs, o mais célebre dentre eles, pertence ao panteão germânico. Enquanto Tannhäuser e Lohengrin apresentavam uma imagem pomposa e estilizada da Alemanha da alta Idade Média, Os Mestres Cantores é tão finamente desenhado, tão colorido e jovial quanto um quadro de Bruegel. Wagner mostra a vida cotidiana dos alemães do Renascimento. Faznos assistir a seus folguedos e confusões. Embora descreendo os costumes dos aristocratas e dos burgueses leva-nos a passear pelas ruas da cidade, em meio a uma multidão ruidosa e variegada; detém-nos diante das tendas dos mercadores e nos introduz nas oficinas dos artesãos. Os perfumes do jasmim e da tília se misturam ao odor do couro, enquanto o martelo do sapateiro pontua o canto fanhoso do grotesco Beckmesser.

A música, poderosa e ligeira ao mesmo tempo, brota com uma espontaneidade que testemunha um grande domínio. Na célebre abertura estão resumidos, num feixe deslumbrante, os diferentes temas. De fato, Wagner recorre a numerosos leitmotive para caracterizar as personagens e os sentimentos, mas os encadeia de forma muito flexível. Substitui os grandes recitativos habituais por diálogos intensos e rápidos, sobretudo por numerosos conjuntos, como magnífico quinteto do terceiro ato. As cenas de multidão são muito impressionantes e o esplendor polifônico dos coros em forma de fuga lembra os grandes oratórios de Bach. A partitura contém ainda cantos muito belos em que se exprimem os sentimentos individuais: os mais célebres são os dois monólogos da Sachs e o "canto do concurso" de Walther no terceiro ato.

Essa competição de cantores ecoa o concurso dos cavalheiros poetas em Tannhäuser. Enquanto Beckmesser e outros Mestres Cantores representam uma arte asfixiada pelos preconceitos e o conseradorismo, Walther encarna uma arte viva e inspirada que zomba das convenções, mas não da tradição, como mostra a cena em que Sachs lhe ensina as regras da poesia. Essa comédia contém uma mensagem muito clara: a arte deve conciliar o antigo e o novo, a inenção e o costume; as críticas não devem barrar o caminho ao gênio, e o artista deve guiar seu povo, exprimindo suas aspirações profundas. Em Lohengrin, essa missão evangélica do artista é encarnada por um cavalheiro do Graal separado do povo, aqui Hans Sachs é uma personagem extremamente humana e comovente: sapateiro e poeta, melancólico e bondoso, humilde e genial, ele simboliza ao mesmo tempo o artista inteligente e o público esclarecido. Encarna também o poder regenerador da renúncia, como Wotan e Parsifal: sua atitude em relação a Walther e Eva lembra a do senhor dos deuses no fina de O Anel de Nibelungo, apagando-se diante de seu neto, e anuncia a do herói de Parsifal, sacrificando seu desejo ao amor da humanidade.

Pouco a pouco, o clima da farsa (que culmina na extraordinária cena da confusão noturna) converte-se num ambiente de festa popular e solene. A ópera se encerra com um final espetacular (a marcha das corporações, a dança dos aprendizes, o desfile dos Mestres). Após os jogos de palavras e as travessuras, eleva-se um hino grandioso à Arte germânica, cantado pelo artista e repetido em coro pelo povo: a familiaridade torna-se comunhão. Essa ópera magistral iliustra a aventura desse compositor rebelde que teve de lutar a vida toda contra críticos para impor suas obras, quando ele se queria o cantor de seu país.

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