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Dom, 28/09/08 - Imagine a cena: o capitalismo americano está caindo e eu fui parar em Graceland, a casa de Elvis Presley, em Memphis.
A casa de Elvis permite uma visita emocionante a um passado esquisito. Minha geração não gostava de Elvis. Nos anos 60, meu mundo preferia os Beatles, depois os Stones, Jimmi Hendrix, Janes Joplin, depois John Lennon… Elvis Presley parecia aquele pioneiro brega, com seu terno dourado, sapato de bico fino e aqueles movimentos típicos de um exercício sexual no palco. Mais tarde, esse universo seria submetido a uma releitura e Elvis foi salvo de nossa intolerância. Embora sua música fosse rock, o conteúdo era de um bolerão agitado. Tinha uma voz bonita e poderosa. Aprendi a gostar dele quando aprendi a colocar cada coisa em seu lugar. Elvis era “perigoso, diz um dos cartazes didáticos que enfeitam um dos inúmeros cômodos de Graceland. “Mas não perigoso demais,” esclarece o texto de Graceland. Fala-se de perigo ao lado das imagens filmadas de um show que mostra Elvis naquela dança que está entre a antropologia e o erotismo. Em contraponto, surgem imagens de mocinhas lindas de cabelo chanel que gritam, puxam os cabelos e choram. Todas são virgens. Muitas fugiram de casa para ir ao espetáculo. O grito é tão forte como a música. O sexo é total.
A casa de Elvis é um monumento ao exagero. Não é a casa de uma pessoa. É um show. Os quartos, os móveis, o jardim: tudo é demais, é excesso, é supérfluo. Ainda bem que naquele tempo os artistas não contratavam arquitetos-decorado res para montar suas residências.
Há um sabor violentamente proletário nas cores fortes, nos dourados, nos contrastes. Tudo é caro, nada é imitação de estilo, tudo é bruto.
Não faltam objetos artesanais, inclusive um par de bonecos horrorosos de vidro trabalhado. Mas não há uma única obra “de arte.” Aprendi na visita que Elvis vendeu seu primeiro milhão de dólares no primeiro ano de carreira e depois não parou mais. Comecei a contar os discos de ouro em exposição e desisti. Procurei os de platina. Também eram muitos. Mas Elvis também fez filmes e lá estão os cartazes de todos eles. Vi alguns no tempo em que foram lançados. Eram péssimos. Minha memória de um deles transformou- se num mistério. Elvis aparecia como dois personagens idênticos ao mesmo tempo. Era duas vezes ruim. Não lembro mas não importa. Era mais um exagero.
A casa de Elvis parece um conjunto de cenários de vários filmes. São ambientes diferentes, para situações diferentes. Num cômodo conhecido como “The Jungle,” você encontra algumas imagens sombrias. A parede é de madeira, plantas aparecem em toda parte. Ali se encontra uma espécie de trono imenso, com forro de pele de urso. Dá para sentir aqueles pelos imensos e escuros, de longe. No lugar onde Elvis costuma sentar-se agora se vê um urso de pelucia, com olheiras tristes de panda. Nada poderia ser mais melodramático.
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